domingo, 5 de dezembro de 2010

A OLIVEIRA

A OLIVEIRA
Valdemilson Liberato


     É certo que muitos questionamentos sempre nos assolam quanto ao entendimento da Palavra de Deus: "Como são insondáveis seus juízos e impenetráveis seus caminhos" (Rm 11:33b).
    Fomos limitados pelo pecado, tornamo-nos desconhecedores de Deus - "pobres, cegos e nus". Porém, o fato é que, quando nos esforçamos na busca do conhecimento da Verdade, visando obedecer ao propósito do Senhor para honrá-lo e glorificá-lo em nossas vidas, essas dúvidas, pelo auxílio do Espírito, vão sendo gradativamente sanadas de acordo com o que suportamos. Alem disso, sabemos que, por Sua Graça e Misericórdia, o Senhor sempre revelou aos seus profetas a Sua vontade.
    Venho, nos últimos anos, num processo gradativo de buscar a Verdade com mais afinco e isso tem me trazido mudanças quanto ao entendimento da Palavra. Ainda cheio de dúvidas, é certo, mas, de alguma forma, acredito estar num processo que chamo de "restauração".
    Uma das coisas que tenho aprendido nesse processo, é que Deus antes de começar a criar qualquer coisa Ele já fez o seu final, ou seja, não há separação para Ele entre início e fim. Para O EU SOU não existe nada inacabado. Não existem experiências. Deus nunca e em nenhum momento errou ou perdeu o controle de alguma coisa.
    No inicio era o Verbo e sempre será. Ele É Bom e Perfeito, assim tudo que foi feito por Ele é bom, perfeito e acabado. Mas então o que pensar sobre o pecado? Por que Deus permitiu a existência de satanás? A resposta é simples: primeiro, a questão não é por quê, mas para quê. E em segundo lugar, para Sua Honra, Glória e Louvor.
    Uma das dificuldades de nós compreendermos a Soberania de Deus é devido ao humanismo que criamos e nos submetemos, assim como a "democracia" em que vivemos. O humanismo nos fez crer, veladamente, que somos o centro de todas as coisas e sendo assim, Deus, de alguma forma, precisa de nós. A democracia nos fez esquecer o significado de Reino.
    Tornamos-nos seres limitados pelas "sugestões dos tempos". Vivemos presos às culturas seculares que criam deuses. O tempo, como sabemos, é um processo exclusivo da natureza carnal, terrena - tanto da semente que aceitou a adoção da iniqüidade e nela se compraz (o joio), quanto à semente separada, que luta contra a sua natureza caída (o trigo) (Mt 13:24) - mas não do espiritual que na essência somos, e é por isso que toda a criação geme. (Rm 8:22)
    A Bíblia nos revela que fomos feito a Sua Imagem e Semelhança, ou seja, da Sua essência, e para agir conforme essa essência - pela fé - cumprindo o propósito estabelecido por Ele. (Gn 1:26) e não guiados pelo sensorial humano - pelo que se vê pelo que se ouve ou pelo que se sente. Sem fé é impossível agradar a Deus. (Hb 11:6)
    Assim sendo, neste caminhar, aprendi amar a Israel e, sobre tudo, amar cada vez mais um judeu chamado Yeshua que veiou para nos lembrar quem somos, no que nos tornamos e o caminho de volta ao propósito de Deus para nossas vidas. Ele pagou o preço. Pela quebra de alguns ramos nos enxertou na oliveira, para participarmos de sua raiz e seiva. (Rm 11:17)
    Agora consigo ver mais nitidamente a oliveira verdadeira na figura de Israel, pela Graça da aliança de Deus e sua promessa ao homem Avrahan na sua fé; estendida a todas as nações dentro do processo da restauração do homem carnal, pela Fé em Yeshua - transição de Ya'akov, "aquele que luta e vence", no homem espiritual (Ysra'el) "aquele que reina com Deus" - A Oliveira.
    Quero aqui deixar claro que não estou negando, como possa parecer, a relevância dos acontecimentos históricos, passados e futuros, já revelados na Palavra, específicos tanto para gentios (oliveira brava) quanto para os judeus. Todavia não esqueçamos que esse é o tempo do "homem-no-mundo", que se chama finito. Importante como indicativos temporais, sinais, evidências norteadoras, para toda a criação perdida, sobre o processo do estabelecimento do Reino - "assim na terra como nos céus".
    Contudo, no tempo de Deus que se chama eternidade, tudo já é. E no Seu "mundo" que se chama FÉ, há uma só Oliveira. Desta forma, "não há judeu nem grego, não há escravo nem livre, não há homem ou mulher, todos são um em Cristo".(Gl 3.28)

    Graça e Paz

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

O NOVO

O Novo

Por: Walleska Liberato

Ah! O novo... O estranho, o desconhecido. Até quando?
A cada dia, vejo, sinto, respiro o desconhecido.
A sensação é de frio na espinha, frio na barriga, frio...
O frio pelo inesperado da vida, pois se fosse o esperado, perdia a graça.

A Graça de cada novo segundo, de cada nova palavra, de cada novo passo, de cada nova fase.
Fases... A vida é feita de fases, que é pra não enjoar... Quando se acostuma com uma, se muda pra outra, só para sentir a adrenalina do novo nas veias e sair da zona de conforto.
O novo é bom! É estimulante, surpreendente. O que seria de nós sem o novo? É por isso que existem as Boas Novas.

A notícia de que algo novo acontecerá, depois deste esperado segundo que é a vida.
Anseio por esta outra fase. A fase de ver a Face.
Poder tocar e viver pra toda a eternidade ao lado do meu amado Mestre.
O Mestre da vida, do novo.
Lá, neste lugar desconhecido e inimaginável, será novo sempre!

Walleska Feijó Liberato

04/08/2010



sábado, 9 de outubro de 2010

LOBOS EM PELE DE OVELHAS

Valdemilson Liberato
    O resultado das eleições para Presidência da Republica no dia 03 de outubro de 2010, foi uma demonstração clara do poder que há na união do povo de Deus. Sabemos que a Igreja do Senhor não precisa de políticos para seu crescimento, pelo contrário, observando a sua história constatamos que a Igreja, em grande parte de sua existência, foi perseguida por aqueles que detinham o poder político e, apesar desses, a igreja sempre cresceu. Todavia, não devemos esquecer que nossa missão como cidadãos do Reino sempre foi defender os Seus Valores: vivendo-os, divulgando, ajudando a implantar este Reino no mundo através dos séculos.
    Hoje a Igreja vive numa época chamada por alguns estudiosos de pós-moderna. Esta é uma época que se caracteriza, principalmente, pelo esvaziamento ético e moral do homem, onde tudo que se chamavam valores foi colocado em “xeque”. Assim sendo, vemos instaurar-se gradativamente, um caótico estado de deformação social que pretende se institucionalizar nesses tempos.
    A sociedade contemporânea parece viver um misto de inconformismo e passividade, diante da violência que invade todas as áreas de sua atual constituição; percebido pelo modo de viver irresponsável do homem no trato com o outro, com o mundo, com Deus e conseqüentemente consigo mesmo.
    Sabemos que a Igreja, “luz e sal do mundo”, como baluarte da Verdade, não deve se conformar aos ditames dessa época, eximindo-se de sua responsabilidade de ser “luz” diante de uma geração perdida no sistema de “trevas da corrupção”.

    “Vós sois a luz do mundo; não se pode esconder uma cidade edificada sobre um monte; nem se acende a candeia e se coloca debaixo do alqueire, mas, no velador, e dá luz a todos que estão na casa”. (Mt.5,14-15)

    E temos consciência, como Igreja, de que ser “sal” também implica em não estar alheios, ou ser coniventes pela omissão, às propostas daqueles que, agora, pretendem assumir o poder de governar o nosso país, aprovando e/ou criando leis antagônicas aos valores do Reino, promovendo na nossa geração e dos nossos filhos, o governo da iniqüidade.

"Vós sois o sal da terra; e, se o sal for insípido, como se há de salgar? “Para nada mais presta, senão para lançar fora e ser pisado pelos homens”. (Mt 5;15)

    Agora, como o inicio das propagandas políticas para o segundo turno, vemos nas propostas “piedosas” dos candidatos, a tentativa de confundir a opinião do povo, com intuito apenas de arrecadar “votos cristãos”. Como lobos em pele de ovelhas invertem, radicalmente, posições até então defendidas, como por exemplo: a legalização do aborto. E não tocam em questões partidárias e pessoais, totalmente contrárias aos valores da família cristã e aos bons costumes da sociedade brasileira, por exemplo, a lei que privilegia a homossexualidade. No dito popular: “acedem uma vela para Deus e outra para o diabo”.
    Diante de tudo o que foi visto, talvez seja  inevitável a pergunta: em quem votar? Como escrito em outro artigo, estamos diante da "Escolha de Sofia". Contudo, acredito que deveremos primeiro pedir a Deus sabedoria para agir conforme a Sua vontade, depois nos paltar nas seguintes perspectivas: 1- Qual o candidato que comprovadamente apresenta, pela sua história política, maior capacidade para governar o país; 2- Qual se compromete publicamente e explicitamente em favor do crescimento ordenado e sutentável do pais e pela defesa da  ética, moral e dos bons costumes da família e da sociedade; 3- As propostas do seu partido condizem com o que é defendido pelo candidato?
    Continuemos irmãos mostrando a essa geração que a Igreja do Senhor Jesus continua firme, também nesta época, como um farol que posiciona o navegador em meio à tempestade.
    Que toda Glória seja dada ao nosso Deus!

    Shalom.

terça-feira, 27 de julho de 2010

Beit Hamikdash

A CASA DE DEUS
Valdemilson Liberato

    Todos nós, cristãos, aprendemos que somos, em Cristo, “Templo” do Deus vivo. (1Co 3.16-17; 2Co 6.16; Ef 2.21) Ou seja, a Igreja, isto é, o povo de Deus - judeus e gentios que confessam e seguem Yeshua (Jesus) como Messias, o Filho do Deus vivo - é comparado a um edifício, ou melhor, representa, individualmente, o próprio santuário de Deus no mundo. Mas será que temos a real compreensão do que esta "figura de linguagem" significa? Do grau mínimo de santificação que deveremos buscar para chegar a ser reconhecido como morada do Espírito Santo?
    Veremos a seguir, no artigo publicado pela revista MORASHÁ (Junho 2010 – n.68) um pouco da importância, para os judeus, do Beit Hamikdash - o Templo Sagrado - e talvez, a partir daí, possamos, conseqüentemente, vislumbrar um pouco melhor o que é ser Igreja.
   “A concepção de uma “Casa de D’us” – um local específico onde “habita” o Eterno – deve ser apreendida de forma metafórica, pois D’us preenche e transcende toda a Sua Criação. Como ensina o Midrash, “D`us é o lugar do mundo, e o mundo não é o Seu lugar”. Isto significa que tudo que existe, existe dentro d`Ele. De fato o Rei Salomão, referindo-se ao Templo que acabara de construir, declarou: “Os céus e os mais altos céus não Te podem conter, quanto menos esta casa que construí para Ti”. O propósito do Beit Hamikdash evidentemente não era o de conter o Infinito, mas o de servir como centro da manifestação Divina na Terra. Era lá onde a Shechiná, a Presença Explícita de D’us, revelava-se de forma aberta. No Templo de Jerusalém não havia ocultação Divina; não havia qualquer dúvida quanto a Sua Existência e Providência. Rabi Josué Dessihnin explica de que maneira o Infinito poderia estar numa moradia terrestre e, ao mesmo tempo, no mundo inteiro. Ofereceu, para tanto, o exemplo de uma caverna à beira-mar. As ondas entram na caverna e esta se enche; contudo isto não faz diminuir o mar. O mesmo vale para a Glória de D’us (Bamidbar, 12,4).
    Um dos ensinamentos do Midrash mais citados pelos místicos judaicos é que o propósito da Criação é que o homem construa uma “habitação” para D’us nas esferas inferiores – este mundo físico. Isto significa que D’us deseja sentir-Se “em casa” não apenas nos Céus – onde a Sua Presença é revelada abertamente – mas também em nosso mundo material, onde Sua Existência é oculta a tal ponto que muitos chegam a d’Ela duvidar ou negar. O homem constrói a moradia de D’us quando eleva este mundo físico para que se torne um lugar sagrado onde o Criador possa revelar-Se.
    A primeira Casa de D’us a ser construída – que servia como o protótipo do Templo Sagrado – foi o Mishkan, o Tabernáculo. Este foi construído no deserto do Sinai pelos Filhos de Israel, após o recebimento da Torá. Tamanha era sua importância que quase a totalidade da segunda metade do Livro do Êxodo trata de descrever seu aspecto e construção.
    O propósito do Tabernáculo era ser o microcosmo de toda a Criação, representando a parceria entre o ser humano e D’us para fazer do mundo um lugar onde Sua Luz Eterna pudesse ser abertamente revelada. De fato, a construção do Tabernáculo pelos Filhos de Israel simbolizava o próprio ato da Criação Divina.
    Além de terem sido ordenados a construir um Tabernáculo no deserto do Sinai, os Filhos de Israel receberam o mandamento de edificar um Templo permanente. Como escreve a Torá: “Ireis ao lugar que escolherá o Eterno, vosso D’us, dentre todas as vossas tribos, para ali por Seu Nome; pelo lugar de Sua morada perguntareis, e lá ireis” (Devarim, 12:5). Mas a construção do Templo não poderia ocorrer até que o Povo Judeu tivesse ocupado a Terra de Israel, apontando um rei sobre si e alcançado a paz com as terras vizinhas. Tal estado de paz foi obtido apenas durante o reinado de Davi. Este, após ter feito de Jerusalém a capital eterna do Povo Judeu, almejava, acima de tudo, construir ‘’a Casa de D’us”.
    Com a ajuda do maior profeta da época, Samuel, o Rei David procurou o local exato do Grande Altar e do lugar mais sagrado do Templo – Kodesh ha-Kodashim, o Sagrado dos Sagrados, que é “a moradia do Poderoso de Jacob” (Salmo 132: 2-5). No entanto, D’us não permitiu ao Rei David, Salomão, cujo próprio nome significa “a paz pertence a ele”, quem teve o privilégio de construí-la.
    No entanto, apesar de ter sido construído pelo Rei Salomão, um dos nomes do Templo Sagrado é a “Casa de David”, pois além de ter detectado o local onde deveria ser erguido, foi o Rei David quem reuniu todos os materiais para a sua construção. Todos os objetos de ouro que o Rei David adquiria em suas conquistas militares eram trazidos para Jerusalém e guardados para tal fim. Foi também David, o maior rei na história judaica, que escavou as fundações do Grande Altar do Templo e entregou ao seu filho, Salomão, o plano completo, com todos os detalhes, para a construção do Templo.
    A ligação eterna entre o Rei David e o Templo ficou evidente na própria inauguração do Beit Hamikdash. Quando o Rei Salomão tentou levar a Arca Sagrada para o Sagrado dos Sagrados, as portas fecharam-se hermeticamente e permaneceram fechadas apesar de ele ter recitado 24 salmos. As portas se abriram apenas quando Salomão pediu a D’us que Se lembrasse dos méritos de seu pai, David. Nessa hora, ele foi atendido e conseguiu colocar a Arca sobre a Even Shetiyá – a Pedra Fundamental do Universo. O Talmud afirma que a rocha é assim chamada porque é o alicerce do Universo – o ponto onde D’us iniciou toda a Criação. O Zohar, obra fundamental da Cabalá, descreve, metaforicamente, o início da Criação: D’us tomou uma rocha debaixo de Seu Trono de Glória e a jogou no abismo, separando assim as Alturas do mundo inferior.
    O primeiro Templo Sagrado, o majestoso edifício construído durante o reinado de Salomão, permaneceu de pé durante 410 anos. Para sua construção, foram empregados 150 mil homens que trabalharam durante sete anos. A tradição conta que durante sua construção ninguém sofreu acidentes, nem se quebraram ferramentas.
    Em 568 a.E.C, o Templo foi destruído pelos exércitos do rei Nabucodonosor, que o incendiou e saqueou, levando os judeus cativos para a Babilônia. Setenta anos mais tarde, um segundo Templo Sagrado foi construído, com a volta de judeus da Babilônia sob a liderança de Ezra e Neemias. Inaugurado em 516 a.E.C., o Segundo Templo foi reformado, em 20 a.E.C., pelo rei Herodes. Para expiar seu terrível pecado de ter assassinado a maioria dos sábios judeus, Herodes o transformou em uma das construções mais majestosas da época. Mas, no ano de 70 E.C., os exércitos romanos de Tito o destruíram. Os dois Templos foram destruídos na mesma data, 9 de Av, Tishá b’Av, o dia mais triste de nosso calendário.
    Tudo que se refere ao Beit Hamikdash é sagrado – a área do Templo, os pátios, as construções e as escadarias, assim como todos os objetos de seu interior. Tudo tinha uma razão de ser, um propósito e significado espiritual profundo. O projeto, em todos os seus detalhes, é uma espécie de projeção do mundo superior sobre o nosso mundo.(...)
    De fato, esse conceito de que o Altar servia de ligação entre D’us e o homem era conhecido mesmo antes da existência do Templo. O primeiro homem, Adan, foi criado no lugar onde seria erguido o Grande Altar, e para lá retornou após ter sido expulso do Jardim do Éden. Para tentar redimir seu pecado de ter comido o fruto proibido – que trouxe a impureza e o mal no mundo – Adan construiu, no lugar do Grande Altar, sobre o Monte do Templo, um altar para D’us. Foi para este mesmo local que Caim e Abel levaram suas oferendas. Destruído pelo Dilúvio, o Altar foi reconstruído por Noah, no mesmo lugar. Lá, seu filho Shem ofereceu os primeiros sacrifícios, e lá, D’us fez Seu primeiro pacto com a humanidade: nunca mais esta seria totalmente destruída por um dilúvio. O Altar tornou-se, portanto, um símbolo de proteção para todos os seres humanos.
    A localização do Altar foi revelada a Avraham durante seu último teste, o mais difícil de todos – quando recebeu a ordem Divina de levar seu filho, Itzhak, ao Monte Moriá, para o sacrificar. Ao se aproximarem de Jerusalém, pai e filho viram um anel de nuvens sobre o Monte do Templo e perceberam que esta era a montanha donde Adam e Noah haviam erguido o Altar para D’us. Ao se aproximarem ainda mais, uma coluna de fogo indicou sua localização exata. Avraham, então, reconstruiu o Altar, e se aprontou para sacrificar o filho. Mas D’us o deteve. Não obstante, o Talmud ensina que D’us considera como se o sacrifício de Itzhak tivesse, de fato, ocorrido. Este ato supremo de lealdade a D’us, por parte do pai e do filho, serve como fonte de proteção eterna para seus descendentes, o Povo de Israel.
    (...) A Torá conta que Yaacov, seguindo viagem para encontrar uma esposa, parou em Jerusalém, e aí adormeceu sobre uma rocha. Enquanto dormia, sonhou com uma escada, cujo topo atingia os Céus, e por onde anjos ascendiam e desciam. Isto indicava que o lugar onde se encontrava era o foco da elevação espiritual – o portal para os Céus através do qual uma pessoa pode subir a níveis espirituais mais elevados. Yaacov, ao acordar, percebendo que este era o ponto mais sagrado do mundo, colocou uma pedra como monumento e verteu óleo sobre a mesma. Mais tarde, tanto o Rei Davi quando Ezra e Neemias reencontraram o local exato para que lá pudesse ser iniciada a construção dos dois Grandes Templos.
    (...) Maimônides, o Rambam, descreve o Universo como contendo três níveis: a matéria não-refinada – a terra e as criaturas terrestres; a matéria refinada – as estrelas e os corpos celestes; e seres totalmente espirituais – os anjos e outros seres não-físicos. No âmbito do tempo, há também três divisões: os seis dias da semana, o Shabat e o “Shabat dos Shabats” – Yom Kipur, que é o dia mais sagrado do calendário judaico. Em relação às almas do Povo Judeu, há os Israelim, que, em sua maioria, eram fazendeiros, comerciantes, soldados e estadistas; os Leviim, cujo serviço no Templo Sagrado envolvia o refinamento e a elevação do mundo material; e os Cohanim, cujo líder era Cohen Gadol, o Sumo Sacerdote, que personificava o ápice espiritual alcançável pelo homem. Tanto no Tabernáculo quanto no Templo, esses três domínios eram representados, respectivamente, pelo Pátio, pelo Santuário e pelo Sagrado dos Sagrados.
    O Pátio englobava os elementos menos refinados do serviço do Templo. O Pátio era o lugar onde os Cohanim lavavam seus pés e suas mãos para se purificarem do contato com o mundo material antes de iniciarem o serviço. O Pátio era também onde eram abatidos os animais para os sacrifícios, onde a carne destes era consumida pelos Israelim, e onde as gorduras dos sacrifícios animais (representando a materialidade excessiva) eram queimadas no Grande Altar. Era também neste domínio do Templo que eram depositadas as cinzas que constituíam “os resíduos” da Menorá e do Altar interno, de ouro, onde era oferecido o incenso.
    O Santuário, onde apenas os Cohanim tinham permissão de adentrar, representava os elementos mais refinados do serviço do Templo. Era no Santuário que se localizavam a Menorá, a mesa onde era posto o Pão dos Cohanim e o Altar onde era queimado o incenso.
    O terceiro e mais sagrado domínio era o Sagrado dos Sagrados, que hospedava apenas a Arca sagrada e que podia ser adentrado apenas pelo Cohen Gagol e somente em Yom Kipur. Este domínio representava a trascendência do físico que é realizada pelo homem através de seu serviço a D’us.
    O Templo incluía esses três domínios porque a missão de construir uma Moradia para D’us nos mundos inferiores deve incluir todos os assuntos pertinentes à vida de um judeu. Este deve servir a D’us em seus momentos de grande exaltação espiritual – simbolizados pelo Sagrado dos Sagrados, em ocasiões em que é necessário trabalhar para elevar e refinar o mundo – correspondendo ao serviço no Santuário, e, finalmente, nas atividades mundanas do dia a dia – representadas pelo Pátio.
    As orações que se recitam nos dias de hoje correspondem ao serviço realizado no Templo Sagrado de Jerusalém. O povo judeu recita, diariamente, trechos a respeitos dos sacrifícios, oferendas e oferta de incenso.Vários tratados do Talmude abordam assuntos referentes ao Templo Sagrado e aos serviços nele realizados, e as principais orações do judaísmo, em particular a Amidá (Shemone Esre), incluem súplicas para que seja construído o terceiro Templo de Jerusalém, que será eterno. Jerusalém e o Templo Sagrado são continuamente lembrado.
    O costume de se quebrar um copo após a cerimônia de casamento serve para lembrar que a felicidade de um judeu não pode ser completa até que o Sagrado Templo volte a existir".
  
    Graça e Paz

sábado, 17 de julho de 2010

O EU CRISTÃO

O EU CRISTÃO.
Valdemilson Liberato

    Quando nós chegamos neste mundo nos deparamos com uma realidade dúbia de cultura, hábitos, costumes, mitos, dogmas e outros tantos valores pré-estabelecidos por interesses político-sociais humanista. Digamos que estamos, durante algum tempo, indefesos e a mercê das “verdades” que nos são impostas em todas as fases do nosso desenvolvimento psíquico-social.
    Embora sejamos criaturas feitas à imagem e semelhança de Deus, ou seja, constituídas de volição, sentimentos e inteligência, não podemos negar, sem querer entrar no mérito do pecado original, que tendemos aos desejos lascivos e ao extremo egoísmo em tudo que fazemos, quase sempre, fruto do comportamento que assimilamos desta sociedade. Somos criaturas sociais “erótico-egoístas” por excelência. Precisamos do outro para formar o nosso “eu”; e é só a partir deste eu que percebemos o outro. É interagindo com o outro que verdadeiramente percebemos não apenas o outro em nós, mas, principalmente, nós no outro. Talvez seja, exatamente por isso, que procuramos no outro, para amá-lo, aquilo que nos falta, que não nos revela.
    Aprendemos, à duras penas, que vivemos em um mundo que não é só nosso, mas que é também do outro, e dividir, de modo justo, algo que nos é tão essencial é sempre muito difícil, pois somos, por essência, ou melhor, por conseqüência, injustos. Temos a tendência de interagir com o outro visando o proveito próprio. Nossos pais, cônjuge, filhos amigos, etc., são considerados “bons” para nós, pelo percentual das benesses que nos oferecem, ou seja, se são capazes de realizar muitos dos nossos desejos, na maioria, velados por um paradigma social que estabelece o modelo adequado para ser considerado bom: pai, cônjuge, filho, amigo... E, até mesmo, quando enlutados de um desses queridos, sofremos e choramos não por ele, mas porque ficamos sem ele.
    Por outro lado, acreditamos que não somos apenas aquilo que apreendemos do outro e com o outro. Trazemos para este mundo algo inato, uma herança interna, genética, espiritual, individual que, apesar do outro, nos diferencia e nos responsabiliza pelo cuidado não só de nós mesmos, mas também do outro. A verdade é que somos produtos da junção do inato e do social, ou seja, espírito e alma, todavia, neste mundo, a alma predomina sobre o espírito.
    Ao ouvir falar de Jesus, muitos de nós, até  nos intitulamos cristãos e acreditamos viver como tal - libertos dos ditames do mundo - contudo, continuamos apresentando, cotidianamente, um comportamento típico dos "escravos do mundo". Mas o que é ser cristão? Será que somos reconhecidos, pelo outro, como discípulos de Cristo? E por Jesus? Estamos inseridos num contexto de interação social neste mundo diferenciado do atual? - “leve vantagem você também!”
    Precisamos refletir se é realmente Cristo que vive em nós, e isto só é evidenciado nos frutos de nossos atos no mundo pela ação do Espírito, e não apenas pelas nossas "bondosas" atitudes no mundo ; pelos frutos do desejo de Deus em nós para o outro, e não pelos nossos desejos ou dons que alegamos ter recebidos de Deus, não o outro. Tudo é para a Sua glória, não para a nossa.
    Urge perceber o quanto estamos contaminados pelo desejo egóico, proveniente de um mundo maculado pela individualidade hedônica, cuja máxima é: “primeiro eu, segundo eu e, por fim, eu”, embora isto possa ocorrer, até mesmo, quando acreditamos estar obedecendo a vontade de Deus e, conseqüentemente, achando que estamos amando o outro.
    Por fim, se acreditamos ser “eleitos de Deus”, precisamos estar atentos se realmente fazemos a Sua vontade, ou apenas a nossa. Se em nós, revela-se a mente de Cristo, pelos frutos desse relacionamento, no amor incondicional pelo outro, ou se o que se evidencia em nossas vidas é a concupiscência da carne, velada pela religiosidade, no trato do amor do mundo em nós, com o outro e com Deus.
    O Senhor Jesus nos adverte:
“Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! Entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus, Muitos, naquele dia, hão de dizer-me: Senhor, Senhor! Porventura, não temos profetizado em teu nome, e em teu nome não expelimos demônios, e em teu nome não fizemos muitos milagres? Então, lhes direi explicitamente: nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, os que praticais a iniqüidade.” (Mt 7. 21-23)

Graça e Paz!



quarta-feira, 23 de junho de 2010

O ABSURDO DA EXISTÊNCIA

   O ABSURDO DA EXISTÊNCIA
Valdemilson Liberato
    Ao lermos o livro “O Estrangeiro”, de Albert Camuns, uma das sensações que parece nos invadir a alma é uma espécie de mal-estar, pelo estranhamento diante do “realismo absurdo” que Camuns, habilmente, imprime no seu leitor durante o desenrolar dos acontecimentos narrados; onde não há lugar para emoções desejadas que, comumente, “floreiam” o mundo dos contos, reflexo perceptivo generalizado da própria existência do homem-no-mundo.
    Nesta história, diferente do que se espera pelo senso comum, parece haver um comprometimento do autor com o "sem-sentido", e os fatos não obedecem a regras determinadas e condicionadas pela lógica esperada, ou seja, existe a clara intenção de se expor o absurdo, que parece caracterizar a existência. Mas como podemos pensar o absurdo da existência? O da lógica, onde o absurdo é tomado simplesmente como sinônimo do falso, ou por uma oposição a abstração racionalista, que visa delimitar o que não se enquadra em regras e condições pré-estabelecidas?
    Nestes termos, podemos pensar esse “absurdo” como sendo a falta de sentido, de justificativa racional para a existência do homem e do mundo no qual o eu existe. Mas se a razão é uma constituinte do homem, desvincular uma justificativa racional à sua existência só pode se dar por este homem em sua razão. Então, o absurdo seria fugir a uma justificativa racional para sua existência ou elaborar continuamente justificativas, até mesmo pela negação de qualquer sentido dessas? Kierkegaard diz que o absurdo implica, exatamente, na incapacidade de se conceber a subjetividade fora dos padrões propostos por um sistema racional. O absurdo é o paradoxo.  Para ele o indivíduo é uma subjetividade que não pode encontrar o seu fundamento em nenhum sistema racional, ou seja, num conjunto de elementos, concretos ou abstratos, intelectualmente organizado.
    É exatamente diante da falta de sentido dos movimentos factuais que se dão no decorrer de toda essa história, que podemos pensar sobre o comportamento estrangeirado do nosso protagonista, como sendo o de um homem vivendo num "mundo privado de luzes e ilusões" onde não encontra nenhuma familiaridade, nem esperança. Talvez, possamos até mesmo pensar que a palavra: “estrangeiro”, não seja a melhor metáfora para simbolizar o sentimento deste homem-no-mundo, já que nos remeteria a pensar apenas em alguém que "não é de", ou se sente incapaz de reconhecer-se pertencente a um determinado lugar em que viva, embora possa ter consciência de uma referência identitária de origem. A “alheabilidade” parece melhor representar a condição do absurdo da existência apresentada pelo romancista no comportamento do seu personagem.
    Vejamos alguns fatos no comportamento de Mersault que possam sinalizar esse “modus vivendi”:

    “A mãe de Mersault vivia num asilo e ele nunca a visitou, não porque existisse algum sentimento de magoa ou raiva dela, mas apenas por não ser importante ver sua mãe. Em geral tudo lhe é enfadonho. Diante da morte dela, vai ao seu enterro, e lá não demonstra qualquer dor, apenas uma sensação de querer estar longe dali. Para ele todos os atos e circunstâncias se deviam ao acaso. Nada mais. E é por esse mesmo acaso que ele se vê abordado por uns árabes que o ataca. Trava-se uma luta corporal, de vida e morte sem justificação. Cego pela luz do sol ele dispara a arma e mata um árabe, sem saber realmente porque isso ocorreu. Pelo crime vai ao tribunal e lá é acusado de assassino frio e monstruoso. Todas as testemunhas arroladas, vizinhos, pessoas do asilo onde sua mãe havia vivido, evocam diante do juiz, sua indiferença à figura materna, sua ausência de sentimento durante o enterro a não ser o sentimento de enfado. Seus vizinhos o acusam de que no mesmo dia da morte de sua mãe, dia que ele mesmo não sabia qual era, fizera amor com sua namorada. Porem, mesmo diante de tantas acusações o que lhe incomoda são os insetos, o calor local, únicos causadores de seu incômodo. E mesmo condenado à morte não demonstra indignação e sua perplexidade não o atinge mais que sua indiferença”.

    A partir do que vimos, podemos então perceber, pela visão do senso comum, um homem fútil, sem sentido, unidade e clareza num mundo, para ele, ininteligível. Os motivos dos seus atos não são compreensíveis e os sentidos turvos de sua existência se perdem por não haver motivação nem satisfação. Ele vive no instante e não conhece outra finalidade para a vida senão o momento que passa. Infiel, quer sempre provar novidades e recusa engajar-se em qualquer projeto futuro. A obscuridade de sua existência parece sinalizar não apenas a própria existência, mas o desespero característico da existência, pela inconsciência de seu “eu”, ou seja, de não saber ser “espírito”. Para Kierkegaard estar inconsciente ou não aceitar de que se é um “eu”, ou até mesmo na incapacidade de querer ser, é não compreender quem se é de fato. Este filósofo afirma que o homem vive na ilusão de ser o que de fato não é. Com isso, distanciado do que é, angustia-se, torna-se queixoso da falta de liberdade, como que cativo na plena liberdade de ser, e sem o conhecimento de si mesmo, na liberdade de ser, desespera-se. Assim sendo podemos compreender que quem desespera quer, no seu desespero, não ser ou ser ele mesmo. Desta forma, o desespero, segundo Kierkegaard, se baseia precisamente na inconsciência em que os homens estão do seu “destino espiritual” - isto é, ser um “eu”. E é pela degradação da consciência sob o ponto de vista do “eu”, ou seja, o eu cuja medida é o homem, que o nosso personagem vive por demais inconscientes de si e dos outros. É exatamente devido à ausência do vínculo profundo do espírito, que não se é mais do que uma mistura sem nexo de um pouco de ação, de acaso e de acontecimento, e esta mistura parece se mostrar no comportamento do homem “estrangeiro”.
    Segundo Kierkegaard, por ser o homem uma derivação da síntese de finito e infinito, temporal e eterno, possíbilidade e necessidade, ou seja, na relação discordante desta síntese dialética, como reflexo de ser si próprio e em relação a Deus, é que surge o “desespero humano”. Assim, pelo que observamos no comportamento de Meursault, podemos pensar que ele se desespera pela carência de infinito, de necessário e eterno, na inconsciência do “eu” que é.
    Em suas reflexões pautadas na dialética, Kierkegaard, acredita que o homem, escolhe sua própria forma de existir e sendo assim, ele vai distinguir três modos fundamentais de viver no mundo: o estético, o ético e o religioso. Desta forma, a partir dos fatos narrados, acreditamos poder utilizar esse conceito, para pensar este homem, Meursault, predominantemente existindo no estádio estético, onde tudo que ele experiência se dá na ordem do sensível, submerso no tédio, movido pelas circunstâncias e totalmente distante do sentido ético da existência. Podemos ver que ele vive no e para o “aqui e agora”. É neste estágio que eclode toda a mesquinhez e o narcisismo, onde nada é estritamente impossível. O que interessa ao homem deste estágio é o jogo da sedução, da manipulação onde os meios justificam-se pelos fins. Este homem apropria-se do entorno e faz de sua existência uma representação exclusivamente individual, não considera a instância de deveres éticos ou das obrigações sociais, esgota-se na exterioridade representada.
    Por fim, desejamos sugerir, a partir de tudo o que aqui foi dito, a possibilidade de olhar para o absurdo da existência, não pela incapacidade da elaboração racional que a própria existência sugere para a razão e que foi muito bem demonstrado pelo “estrangeirismo” de Meursaut, mas o absurdo da existência pela inconsciência do homem da sua existência sem Deus, ou seja, existir se bastando no mundo apenas pelo modo ético e/ou estético.
    Vislumbrar o “eu” que se é no absurdo da existência, só é possível, pensamos, através de outro absurdo maior, o absurdo da fé, já que crer em Deus é um “salto” de fé, um comprometimento com O próprio absurdo, e para isso não é necessário haver qualquer tipo de elaboração racional de cunho filosófico, teológico ou provas empíricas, nem mesmo esperança, mas fé. Ao mesmo tempo em que a fé é um movimento para o absurdo, ao eterno, também é um movimento de retorno à temporalidade, pois se mostra em ações do homem na existência. Paradoxalmente, o luto entre o homem e o absurdo acontece exatamente no "salto" para Deus em Cristo - o fim do absurdo enquanto tal.

sábado, 29 de maio de 2010

A ESCOLHA DE SOFIA

A ESCOLHA DE SOFIA
    No dia 18 deste mês recebi um e-mail de um querido irmão cujo conteúdo continha um artigo que falava sobre a próxima eleição para Presidente do Brasil, escrito pelo economista Rodrigo Constantino, intitulado: “Serra ou Dilma? A escolha de Sofia.”
    Para quem não sabe, a escolha de Sofia diz respeito à história de uma mãe polonesa, judia, que durante a Segunda Guerra Mundial, no campo de concentração nazista de Auschwitz, é forçada por um soldado alemão a escolher entre o filho e a filha, qual seria executado e qual seria poupado. Se ela se recusasse a escolher, os dois seriam mortos. Ela escolhe poupar o menino, baseando-se no fato de que, por ser homem e mais forte teria mais chances de sobreviver. Assim sendo, apesar de ser obrigada a “condenar” sua filha à morte, nunca mais teve notícias do filho que salvou.
    Percebemos claramente que este artigo do Rodrigo, pelo exagero comparativo que faz, tem a intenção nítida de provocar um despertar cívico da população diante do atual quadro político que vivemos; acrescido das absurdas propostas de governo que evidenciam o “frágil” perfil dos candidatos que hora se apresentam para ocupar os cargos disponíveis nas próximas eleições.
    Possa ser, também, que esse artigo desperte certo desconforto naqueles que tentam justificar a negligência do seu direito e dever da cidadania, alienando-se pelo resistente argumento religioso dos que afirmam: “Deus está no controle de tudo e sendo assim a Igreja não deve envolver-se na política”. Bem, que Deus está no controle de tudo, todos nós cristãos, estamos cônscio disto, contudo será que esse argumento nos exime da responsabilidade, como Igreja, de participar ativamente da escolha daqueles que irão governar e legislar as leis do país em que vivemos?
    Diz assim o artigo:
    “Tudo que é preciso para o triunfo do mal é que as pessoas de bem nada façam” (Edmund Burke)
    E continua:
    “Agora praticamente é oficial: José Serra e Dilma Rousseff são as duas opções viáveis nas próximas eleições. Em quem votar? Esse é um artigo que eu não gostaria de ter que escrever, mas me sinto na obrigação de fazê-lo.
    Os antigos atenienses tinham razão ao dizerem que assumir qualquer lado é melhor do que não assumir nenhum? Mas existem momentos tão delicados e extremos, onde o que resta das liberdades individuais está pendurado por um fio, que talvez essa postura idealista e de longo prazo não seja razoável. Será que não valeria à pena ter fechado o nariz e eliminado o Partido dos Trabalhadores Nacional - Socialista em 1933 na Alemanha, antes que Hitler pudesse chegar ao poder? Será que o fim de eliminar Hugo Chávez justificaria o meio deplorável de eleger um candidato horrível, mas menos louco e autoritário? São questões filosóficas complexas. Confesso ficar angustiado quando penso nisso”.
    Diz mais:
    “Entendo que para os defensores da liberdade individual, escolher entre Dilma e Serra é como uma escolha de Sofia. Anular o voto, desta vez, pode significar o triunfo definitivo do mal. Em vez de soco na cara ou no estômago, podemos acabar com um tiro na nuca”.
    De fato, acredito que este artigo serve, pelo menos, como um alerta para todos nós que possuímos os valores do Reino em um mundo cada vez mais necessitado destes, e por isso, a responsabilidade em sermos mais diligentes no esforço para eleger aqueles que, se não comungam, mais se aproximam desses valores.
    Arnold Toynbee afirma que:
    "O maior castigo para aqueles que não se interessam por política, é que serão governados pelos que se interessam”.
    O apóstolo Paulo, nas Epístolas aos Romanos, ensina a Igreja do Senhor:
“Portanto, dai a cada um o que deveis: a quem tributo, tributo; a quem imposto, imposto; a quem temor, temor, a quem honra, honra.”(Rm 13.7)

Shalom.



quarta-feira, 19 de maio de 2010

Meu pai para mim.

    Certo dia, ao chegar em casa, fui presentiado pela minha filha com a seguinte declaração de amor:
 
"Meu Pai pra mim,

Paternidade e fraternidade,
Responsabilidade e fidelidade,
Mimo e preocupação,
Amor e carinho,
Esse é meu paizinho.

Desde que nasci sou amada e mimada pelo meu pai, que sempre quer me agradar.
Quando estou triste, você me faz alegre,
Quando choro, você me faz rir,
Quando estressada fico, você ajuda a aquietar meu coração,
Quando reclamo da vida, você me mostra o quanto ela é boa,
Quando abaixo a cabeça, você ajuda a reerguê-la.
Você é o segundo melhor pai que existe,
Pois o melhor é Deus que me deu você!

De: Walleska Feijó Liberato,
Para o melhor pai que meu Pai fez,
Valdemilson Liberato.
Em: 14 de agosto de 2005.
Te Amo!"
    É claro que, imediatamente depois de ler esta poesia, fiquei muito emocionado e não pude conter as lágrimas que insistiam em inundar o meu rosto de tanta felicidade. Ao contemplar por diversas vezes essa maravilhosa declaraação de amor, de uma filha para um pai, compreendi que a palavra "Pai" realmente é a melhor expressão humana para Deus -como exemplo de relacionamento entre duas pessoas que se amam - embora, muitas vezes, a imagem de pai possa trazer à memória de muitos filhos uma figura tosca, associada às imperfeições de homens que de pai nada possuem. Não foi por acaso que Jesus nos ensinou a orar iniciando com a frase "Pai nosso que estás no céu", onde a palavra céu não tem a intenção de denotar apenas um lugar onde Deus está, mas sim a perfeição deste Pai maravilhoso.
    Quando associamos a palavra "Pai" a Deus e esta associação toma corpo em nosso ser, tornamos pessoas mais confiantes, gratas, felizes... A paz se faz presente em todas as áreas de nossas vidas, pois temos a certeza que, apesar das circunstâncias, temos o cuidado constante de um pai que, "simplesmente", é Deus.

"Disse o pintassilgo ao pardal:
'Gostaria muito de saber
Por que os homens são tão preocupados,
Inquietos e aflitos.'
Responde o pardal ao amigo:
'Meu amigo, eu creio que deve ser
Porque eles não tem um Pai como nós,
que cuida bem de mim e de você."

Shalom!

terça-feira, 13 de abril de 2010

VIDA SEM VALOR

 EXISTÊNCIA
 O sapo cantou uma canção
 - Triste melodia.
 Cantou o que sentia n’alma,
 E o louco procurou rimas em vão
 Para transpor todo este sentimento num pequeno papel.
 Pobre mísero sapo.
 Pobre poeta menor.

                                                                                                                  Valdemilson Liberato
VIDA SEM VALOR

    Quando pensamos no sentido mais profundo da nossa existência, recorremos às definições, não só paltadas no determinismo biológico, mas também por uma miscelânea de divagações inebriantes e confusas do tipo filosófico, religioso, sociológico, psicológico, etc., prontas e reconhecidas como verdades teóricas que ousam esterilizar o nosso ser e direcionar os nossos passos.
    Mas quem são esses que ousaram tamanha empreitada e nos levaram a crer que somos aquilo que eles pesam ser e deram “autorização” para a construção do modo de vida a que, segundo eles, devemos nos conduzir? E porque que permitimos que assim fosse? Será que verdadeiramente vivemos segundo a vontade daquele que originariamente nos criou? Ou somos apenas criaturas de nós mesmos?
    O sonho e o destino de todo o ser humano que quer vivenciar plenamente a própria existência é distinguir-se, apartar-se, embora de modo sutil, das próprias origens ditas, sem com isso se tornar exclusivo. Esse paradoxo nos remete a um profundo “mal-estar”, visto que se faz necessário uma profunda investigação dessa origem sem que percamos a individualidade da construção do que somos no mundo e, principalmente, do que queremos ser.
    Vivemos uma época de resignação insatisfatória, no pleno desespero de esperança, na liberdade da transformação e cadeia da rotina, onde os sonhos são esquecidos pela força da vigília. Somos protagonistas e coadjuvantes de uma existência assolada pelas diferenças sociais que nos levam a outras diferenças e nos condenam a levar uma vida de “paz” cercada pela violência, insensibilidade e abandono. Vivemos em um tempo em que, apesar da visível e propagada evolução humana, o homem insiste em involuir socialmente. Onde os ricos continuam excludentes, agora, em condomínios cada vez mais exuberantes e impenetráveis que lembram os castelos da Idade Média, enquanto os miseráveis, perambulando pelas ruas ou em seus guetos, permanecem sonhando com o mínimo de dignidade em sua existência. Um exemplo desse “apartheid” pós-moderno, pôde ser presenciado, recentemente, no desmoronamento do morro do Bumba, na cidade de Niteroi, Rio de Janeiro, onde ficou evidente o descaso político-social destinado a esses “seres invisíveis”, cuja vida, sem valor no cotidiano, aparece, de súbito, valorizada pelo contorno da tragédia que os revelam.
    Em uma época de emergências permanentes, torna-se pouco atrativo e, até pode parecer um desperdício de tempo, dedicar-se a reconstrução do espírito utópico de outrora. Todavia anelar por um mundo melhor não significa ser apenas um sonhador inconseqüente, mas um criador de idéias alternativas.
    Vemos na historicidade do homem que as suas origens, geralmente, são incertas, entretanto, se o advento da filosofia, na Grécia, marca o declínio do pensamento mítico e o começo de um saber do tipo racional, podemos crer que é no princípio do século VI na Mileto jônica, que homens como Tales, Anaximandro, Anaxímenes inauguraram um novo modo de reflexão concernente à natureza que tomam por objeto uma investigação sistemática da história, da qual apresenta um quadro de conjunto, uma “theoria” da origem do mundo, de sua composição assim como explicações das teogonias e cosmogonias antigas.
    O declínio do mito data do dia em que os primeiros sábios puseram em discussão a ordem humana, procurou defini-la em si mesma, traduzi-las em fórmulas acessíveis à sua inteligência, aplicar-lhe as normas dos números e das medidas. Assim se destacou e se definiu um pensamento originário da Polis, exterior à religião, com seus conceitos, seus princípios, suas vistas teóricas. O que implica o sistema da polis é principalmente uma extraordinária preeminência da palavra sobre todos os outros instrumentos de poder. Torna-se o instrumento político por excelência, a chave de toda autoridade no Estado, o meio de comando e de domínio sobre o outro. De fato, é no plano político que a razão, na Grécia, primeiramente se exprimiu, constituiu-se e formou-se. Para o grego, o homem não se separa do cidadão. Outro traço se acrescenta para caracterizar o universo espiritual da polis, os que compõem a cidade, por mais diferentes que sejam por sua origem, sua classe, sua função, aparecem de certa maneira “semelhante” uns aos outros, criando a unidade da polis. O vinculo do homem com o homem vai tomar, dentro do esquema da cidade, uma relação recíproca, substituindo as relações hierárquicas de submissão e domínio - semelhantes (hómoi) e iguais (Isoi).
    Contudo verificasse na história, rumores de uma crise de ordem econômica, religiosa e moral da cidade por volta do século VII e se desenvolve no século VI, período de confusões e de conflitos internos onde os gregos viveram um golpe contra a própria ordem estabelecida, cujas conseqüências serão no domínio do direito e da vida social, as diretrizes da nova ética grega. Surge uma retomada e desenvolvimento dos contatos com o Oriente, que com a queda do império micênico tinha sido rompido. A zona de intercâmbios alarga-se chegando à África e à Espanha imposta pela necessidade de manutenção de sobrevivência devido ao desenvolvimento demográfico. No decurso da época sombria, numa Grécia isolada e desprovida de riquezas de minas, o ouro e a prata tinha se tornado raros levando a uma busca de metais preciosos que eleva a sua circulação, no mundo grego, consideravelmente. A ostentação da riqueza torna-se, desde então, um dos elementos de prestígio do gene, um meio que se une ao valor guerreiro às qualificações religiosas, para marcar a supremacia e assegurar o domínio sobre os rivais. Surge assim o homem “bem-nascido”, proprietário de bens, ganancioso que sobrepõe às necessidades dos servos. Surgem conseqüentemente os artesãos e suas residências aristocráticas na cidade, onde se encontram agrupados os edifícios púbicos associados a uma classe aldeã encarregada de alimentá-los e que povoa as aldeias periféricas.
    Essas mudanças não se limitam ao mundo grego, mas alcançam de forma avassaladora outras civilizações. O deus mamom torna-se soberano no coração do homem. Contudo, o que é próprio da Grécia, é a reação do povo diante do que, para eles, era sentido como uma anomalia e necessitava de uma rápida reação para reorganizar-se em conformidade com as aspirações comunitárias e igualitárias comum deste povo. O esforço da renovação atua ao mesmo tempo na esfera religiosa, jurídica, política e econômica, visando sempre restringir e fixar um limite à ambição e o desejo de poder, submetendo-os a uma regra geral cuja coação se aplique igualmente a todos. Essa norma superior é a “Dike”, e é ela que deverá estabelecer e garantir a “eunomia”- leis dos homens.
    Os primeiros testemunhos deste espírito novo têm relação com certas matérias do Direito. A legislação sobre o homicídio passa da questão de uma vingança privada para uma repressão organizada no quadro da cidade. Aqui eu abro um parêntese para elucidar que, em detrimento desse espírito nobre dos gregos na antiguidade, aberrações como a prática de vender crianças e enjeitar filhos pequenos não era incomum. Como a assunção das funções parentais era uma escolha de foro íntimo, o pai - figura soberana do poder familiar - decidia sobre o reconhecimento ou não da filiação. O abandono das crianças não reconhecidas não constituía crime, pois as leis tinham vigor apenas em relação aos cidadãos, isto é, àqueles inscritos em um registro de filiação. A condição da vida humana estava estritamente ligada a esse reconhecimento. Além disso, mesmo entre os filhos legítimos, o poder incondicional do pai lhe atribuía "direito de vida e de morte" sobre seus descendentes homens (Agamben, 2001; Foucault, 1988).
    Esta diferença entre, a vida humana desprovida de reconhecimento e cidadania e seu estatuto público é apresentada por Agamben (2001) a partir da referência aos termos gregos zoe e bios; duas formas de designar "vida", em dimensões distintas: zoe referindo-se à vida como atributo genérico de todo ser vivo, bios designando a vida propriamente humana, que traz junto o valor simbólico que o reconhecimento público confere à pessoa. Na base da distinção, o autor indica a esfera do poder soberano - representado, na Grécia Antiga, pelo pátrio poder - "na qual se pode matar sem cometer homicídio e sem celebrar um sacrifício". Uma figura antiga do direito romano, o “Homo sacer”, designa justamente, aquele que é ao mesmo tempo, “matável” e não sacrificável.
    Conforme demonstra o autor (Agamben 2001), o “Homo sacer” compõe, com o próprio princípio do Soberano, o elemento originário da política. Ambos são termos de exceção que, desde a sua paradoxal posição de "exclusão inclusiva", fundam o solo no qual a lei jurídica se constitui e pode ser exercida. O Soberano é aquele que constitui a lei sem estar sujeito a ela; o “Homo sacer” igualmente escapa à lei na medida em que é estrangeiro ao universo que ela abrange. Essas duas figuras tiveram existência histórica; elas permanecem vigentes na ficção constitutiva da ordem política moderna.
    Ao recorrer a esses termos Agamben busca esclarecer, através de uma retomada crítica dos fundamentos da política ocidental, a via pela qual a "vida" tornou-se o elemento central e o valor principal da cultura moderna. Não mais a "vida em comum" ou a vida qualificada pelo discurso, vigente como valor na democracia ateniense, mas a "vida nua". Sob esse termo, o autor refere à sacralização da vida tal como a estrutura paradoxal da relação do Soberano à lei a situa: pela inscrição política da vida natural (zoe) através da condição do poder de dar a morte.
    Em fim, segundo este autor, essa politização da vida nua - que Foucault (1988) denominou de biopolítica - constitui o evento decisivo da modernidade. Na forma atual de democracia, a vida sacra do “Homo sacer” encontra-se despedaçada e disseminada "em cada corpo individual, fazendo dela a aposta no jogo do conflito político". Essa via de análise permite aceder à compreensão de como acontecimentos aparentemente tão díspares como a "Declaração dos direitos do homem e do cidadão" e a ascensão dos regimes totalitários eugenistas podem ser resultantes de um mesmo contexto cultural e partilhar de fundamentos semelhantes. Em ambos, podemos concluir que é a sacralização da vida que confere aos "dados naturais", ao fato simples de estar vivo, um lugar político privilegiado mas não considerado - uma vida sem valor.
    Conforme Foucault (1988): "O homem moderno é um animal, em cuja política, sua vida de ser vivo está em questão". Assim sendo, o que pode ser atestado, entre outras coisas, é o fato de que "o direito à vida, à saúde, à felicidade, à satisfação das necessidades" tornou-se a grande utopia da pós-modernidade.


BIBLIOGRAFIA
AGAMBEN, G. Homo Sacer – o poder soberano e a vida nua. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2001;
FOUCAULT, M. História da sexualidade I: a vontade de saber. Rio de Janeiro: Graal, 1988;
VERNANT, J.P. – As origens do pensamento grego – Rio de Janeiro: Editora Bertrand Brasil S.A., 1992.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

CULPA

CULPA


Valdemilson Liberato
    Ao homem foi dada a liberdade para o pecado. Pecar é desobedecer a Deus. Contudo, foi o próprio Deus que criou o homem com o atributo da volição, mas não do pecado. O pecado surgiu como atributo da reivindicação do homem pela escolha pessoal e a escolha, atributo da liberdade do homem. Assim sendo, toda escolha leva ao homem duas possibilidades diante de Deus: dependência ou independência. Além disso, Deus, também, capacitou o homem com o discernimento, e o orientou quanto à melhor escolha a ser tomada – vida, na plena dependência de Deus, contudo, este optou pela sua total independência de escolha - morte, por isso são indesculpáveis quando transgridem em suas escolhas. Ao ser livre para escolher na sua independência de Deus, o homem se angustia pela impossibilidade da não escolha e pelas conseqüências das más escolhas. Assim, no homem, desenvolve-se uma sensação interna de mal-estar proveniente do sentimento de transgressão denominado, muitas vezes, por ele de culpa.
    Esta é um das sensações mais constantes que assola o homem-sem-Deus na sua existência, até mesmo os que dizem conhecê-Lo. Todavia, para os verdadeiros discípulos do Senhor Yeshua, torna-se impossível o compartilhar desse sentimento, pois pela Graça da metanoia, se santificaram na Verdade e passaram a viver em amor, o que é antagônico à sensação de culpa.
    O sentimento de culpa que assola o homem sem conversão, esta atrelado ao egocentrismo que o determina por suas escolhas. Assim é que, como o apóstolo Pedro antes do dia de pentecoste, apesar de poder estar constantemente perto do Mestre, na hora "H", o homem que não se converteu ao Senhor, nega-o três vezes.

Shalom.

Liberato

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Gênero e Sexualidade no Cotidiano Escolar do Adolescente

“Gênero e Sexualidade no Cotidiano Escolar do Adolescente”

Valdemilson Liberato

    Ao evocarmos as questões que envolvem gênero e sexualidade no cotidiano escolar dos adolescentes, necessariamente nos vemos obrigados a dirigirmos um olhar, não só sobre os conceitos de gênero e sexualidade, esclarecendo sobre a abrangência do tema e destacando às relações destes aos movimentos sociais por direitos humanos, mas também, ao próprio conceito de adolescência.
    Vemos nos textos de Marília Pinto de Carvalho (2008. P.95) o surgimento de um importante movimento social que começa a se expandir no final do século XIX voltado para estender o direito de voto às mulheres o qual se expandiu para além do seu sentido reivindicatório, passando não só a exigir a igualdade de direitos em termos políticos e sociais, mas, também se constituí em crítica teórica, introduzindo aspectos inteiramente novos na abordagem de temas como a família, sexualidade, trabalho doméstico, etc., enfatizando, principalmente, a formação subjetiva das identidades sexuais e de gênero.
    Esse movimento feminista que se insurge sobre as relações de poder entre homens e mulheres cria o conceito de gênero para se contrapor à idéia de essência pautada no determinismo criacionista, biológico, como explicação para os diferentes comportamentos e papeis entre os sexos que se justificaria por uma visão naturalizada, imutável e universal. Embora inicialmente esse movimento tivesse a intenção de alertar para as deturpações do entendimento humano sobre essas relações entre os sexos e as condições de exploração e dominação que as mulheres estavam submetidas, o conceito de gênero vai, por uma parte, desenvolver-se em direção a uma banalização do seu uso como sinônimo de estereótipos sexuais ou identidades sexuais chegando às bases dos parâmetros de controle político educacional estabelecido como referência curricular na educação infantil, contaminando a práxis escolar através do determinismo na construção de uma identidade sexual dos indivíduos em consonância às concepções político-sociais reveladas na cultura sobre a sexualidade.
   Com isto, o que podemos perceber é que, embora intimamente relacionadas, identidade de gênero e identidade sexual não são a mesma coisa, a primeira está relacionada com a identificação histórica e social do sujeito que se reconhece como feminino ou masculino, a segunda, com a maneira como os indivíduos se articulam com a experiência dos desejos que são construídos ao longo de suas vidas. Contudo o que vemos é que a sexualidade tem sido alvo de constante controle por diversos aparatos culturais, principalmente por parte da escola, e isto pode ser percebido inclusive nos conteúdos dos livros didáticos e para-didáticos, revelando um posicionamento conservador dos educadores na tentativa de moldarem os comportamentos considerados mais apropriados para meninos e meninas.
    Apesar dessas tentativas de controle por parte da sociedade-escola o que podemos notar é uma espécie de “rebelião” no comportamento, principalmente dos adolescentes, aos paradigmas, quando a questão identitária entre gênero e sexualidade. Porém para entendermos um pouco mais sobre essa “rebeldia” torna-se necessário ressaltar a concepção biopsicossocial vigente sobre adolescência como sendo uma fase no desenvolvimento humano em que o individuo é estigmatizado como um ser que se encontra em “processo de metamorfose” entre a infância e a idade adulta. Segundo Ozella (Adolescência: uma perspectiva crítica), a adolescência não é um período natural do desenvolvimento, embora, como podemos notar, esta pode torna-se um período em que se observa uma confusão de papeis e dificuldade do individuo estabelecer uma identidade própria. Alguns pesquisadores afirmam que o jovem encontra nesta fase uma espécie de “moratória”, um paradoxo entre a exigência social do comportamento maturo e o bloqueio do que lhe impede, por ser considerado imaturo. Um prolongamento do período de aprendizagem dita necessária para sua inserção no mundo adulto. E é exatamente nesse processo de confusão de papeis que eclode uma das questões mais polemicas, ou seja, as relacionadas à sexualidade e a necessidade de apresentá-la ao mundo adulto como comprovação da sua condição de possuidor de tal poder. Contudo, essa exposição da sexualidade pelos adolescentes, embora não padronizada, ou seja, não existindo uma comprovação sistemática que estabeleça uma relação comprobatória de normalidade entre esses atos como sendo de uma fase específica do desenvolvimento humano, de forma desafiadora e na maioria das vezes exacerbada, recebe uma contra-investida dos padrões tradicionais que direcionam o cotidiano escolar.
    Essa postura conflitante, como exemplo, pode ser percebida recentemente através do surgimento de um adereço usados pelos adolescentes, totalmente investido de conotação sexual. Refiro-me ao uso de pulseiras coloridas, uma espécie de código para experiências sexuais, onde cada cor significa um grau de intimidade, que vai desde um simples abraço até o ato sexual propriamente dito. O que realmente o jovem quer dizer com isto? Talvez, penso eu, possa ser um alerta para uma sociedade confusa que, na tentativa de reverter um quadro de domínio “machista” e heterossexual, vem gradualmente estabelecendo e divulgando padrões de comportamentos sexuais exacerbados e promíscuos no “mundo dos adultos”. Qual o papel da família e da escola no contexto da educação sexual e orientação deste adolescente no meio social? Na verdade, o que podemos notar é que tratar de sexualidade na família e nas escolas envolve diversas questões e polêmicas, devido à complexidade do tema e as diferentes visões e crenças daqueles que compõem o contexto familiar e escolar influenciados pela permissividade de uma sociedade amoral.
    Outro fator preponderante quanto à questão do gênero e sexualidade no cotidiano escolar pode ser visto, conforme é pontuado pela Marília, na questão do estereotipo arraigado nas concepções dos professores sobre um perfil padronizado adequado na avaliação qualitativas do aluno segundo e sua masculinidade ou feminilidade.
    Marília revela que, segundo pesquisas realizadas, na avaliação de algumas professoras sobre o despertar da sexualidade nas meninas e o êxito escolar, há a incorporação de uma serie de características de uma feminilidade considerada sedutora a qual levaria a um comprometimento no desempenho escolar. Desta forma, padrões de feminilidade mais erotizadas seriam avaliadas por estas professoras como negativas frente ao desempenho escolar. Elas afirmavam que algumas meninas bem-sucedidas estariam decaindo em seus rendimentos pelo aflorar da sexualidade, onde o foco passara às questões de namoro em detrimento das tarefas escolares. Outro fator interessante quanto à avaliação realizada por alguns professores sobre a postura mais adequada do adolescente como condicionante para um bom desempenho escolar, está relacionada à “dose certa de masculinidade e feminilidade” que cada um deles deve observar e que servirá como baliza classificadora entre o bom e o mau aluno.
    Por fim, o que constatamos é que falar sobre as relações entre gênero, sexualidade e adolescência, independente do contexto e que esta temática se apresente, nos traz à tona questões subjetivas tão complexas que nos vemos em constantes contradições daquilo que falamos com aquilo que pensamos. Por isso, embora percebamos a importância deste assunto no processo de desenvolvimento psíquico e social do individuo, podemos apenas vislumbrar esse processo e suas implicações de forma parca. Contudo, acreditamos que este assunto tem um valor tão especial no que se refere ao propósito da educação dos nossos jovens e o futuro da sociedade, que deverá ser sempre motivo de incessantes pesquisas, não só por parte daqueles que pertencem a este seguimento da sociedade, mas por todos aqueles que amam seus filhos e pretendem ver uma sociedade mais “sadia”.

sábado, 6 de fevereiro de 2010

PSICOTERÁPICO

PSICOTERÁPICO
Valdemilson Liberato

    Por mais esforços que se tenham empreendido durante décadas na compreensão do comportamento humano e suas vicissitudes, visando uma prática mais eficaz na técnica psicoterapêutica, fica claro que ainda estamos “engatinhando” diante da complexidade desse entendimento e suas práxis.
    A princípio acreditamos que, para falar sobre qualquer possibilidade de se empreender uma ajuda psicoterapêutica ao “homem perdido de si”, vagando em uma existência inautêntica, torna-se imprescindível que o ajudador esteja, ele mesmo, ciente de quem ele é e de suas possibilidades. Segundo o filósofo Heidegger (1989) não se deverá, nessa ajuda, se deter na busca de instâncias intrapsíquicas, mais sim no “cuidado”, sabendo-se “ser-no-mundo-com-o-outro”, para não cair em interpretações apriorísticas ou explicações causais sobre a realidade existencial do paciente. Se há alguma interpretação, ela deve ser fruto da elaboração temática de uma existência que se explicita enquanto projeto. Nisto consiste a possibilidade do psicoterapeuta, através da hermenêutica, facilitar que o indivíduo remeta-se a si mesmo, estimulando-o a reconhecer suas escolhas, sejam impessoais, sejam pessoais e a questionar-se no sentido de apropriar-se de suas questões. Assim sendo, o objetivo da psicoterapia não é enquadrar o paciente em padrões morais ou em modelos teóricos, mas buscar compreender as possibilidades singulares de existir de cada um, tal como ele as experimenta em suas relações com as pessoas e coisas que lhe vêm ao encontro no mundo. Para isto, torna-se imprescindível estar ciente do caráter originariamente de abertura do homem sempre em correspondência com o horizonte histórico de sentido do ser. Tendo isso em mente o psicoterapeuta busca fazer com que o homem se revele no que ele tem de único, de particular, para que ele possa encontrar o seu caminho, se responsabilizar por suas escolhas. A partir do momento que ele sabe quem ele é, ele demonstra quem ele quer ser.
    Heidegger, nos diálogos com Medard Boss, em Seminários de Zollikon, (2001) fala sobre as peculiaridades do lugar do “querer-ajudar médico”, como sendo aquele que: “deve-se ser útil no sentido daquilo que cura, isto é, como aquilo que conduz o homem a si mesmo”
Diz ele:

(...) o homem é essencialmente necessitado de ajuda, por estar sempre em perigo de se perder, de não conseguir lidar consigo. Este perigo é ligado à liberdade do homem. Toda questão do poder-ser-doente está ligada a imperfeição de sua essência. Toda doença é uma perda da liberdade, uma limitação da possibilidade de viver.(Id, p.180)

    Contudo, o homem não pode “achar-se”, estando enfraquecido da consciência de quem ele é. Bombardeado pelas solicitações do mundo, este, condenado pela liberdade de suas escolhas, sente-se esmagado pelo peso da responsabilidade das conseqüências dessas escolhas. Com isso, usa de verdadeiras estratégias existenciais no decorrer do tempo, para se isentar dessa insuportável responsabilidade, já que não há garantias dos “acertos” de suas decisões. É neste sentido que vai buscar na impessoalidade apoio para as suas escolhas. Assim sendo, dentro das possibilidades que se lhe apresenta, busca desesperadamente o esquecimento da real condição de sua vulnerabilidade, deixando-se levar pelo “falatório”, tenta transformar em realidade o que é da ordem do imaginário. Não tendo como escapar da ambigüidade desse paradoxo, o homem, lançado no mundo, diante da angústia de ter que escolher e na incerteza das conseqüências desse ato, desespera-se. Kierkegaard vai caracterizar esta situação de “doença do espírito”, onde o ser vai perdendo gradativamente a consciência de seu Eu verdadeiro, assumindo-se, pelo apelo da massificação.
    Cabe então ao psicoterapeuta, na delicada pretensão de ajudar o outro, partir ao encontro deste onde ele estiver, ouvindo com extrema atenção seus anseios e medos, observando o seu modo de agir frente às situações que se lhe apresentam cotidianamente, propiciando-lhe a possibilidade de refletir sobre sua atual situação frente ao mundo, a ele mesmo e a Deus. Levando-o a uma percepção de si mesmo, possibilitando ver-se engendrado no impessoal, envolto a uma generalização, ao incógnito, e juntamente com ele ir desvelando gradativamente a sua singularidade, o seu Eu autêntico (zoé), o homem espiritual, e para que isso ocorra é necessário a morte do homem natural: o “eu-no-mundo” - (psyché), o “eu-para-morte”. No entanto, isto, segundo as Escrituras Sagradas, só poderá ocorrer na metanóia - substituição da razão do mundo pela fé em Cristo Jesus – para Deus.

sábado, 30 de janeiro de 2010

Os Sinais

PROSSEGUEM PREPARAÇÕES PARA O TERCEIRO TEMPLO...

    Com um turbante na cabeça e uma túnica azul claro com filetes de prata, encontra-se um homem numa loja da velha Jerusalém ao lado de rolos de linha branca presos a máquinas de costura. Uma pintura com os sumo sacerdotes realizando um sacrifício animal ao lado do Primeiro Templo mostra a função desta sala.
    Ontem mesmo o Instituto do Terceiro Templo começou a preparar a construção do Terceiro Templo no Monte Moriah, em Jerusalém, o local onde se encontram o Domo da Rocha e a mesquita El Aksa, ao inaugurar um estúdio que manufactura vestes sacerdotais.
    Depois de o rabi chefe Shlomo Riskin, ele próprio um levita ser medido para a sua própria série de vestes levitas, Aviad Jeruffi, o alfaite, toca na sua viola o "Ascendendo ao Monte do Templo" em forma de celebração.
    As vestes sacerdotais nunca mais foram usadas depois da destruição do Segundo Templo pelos romanos no ano 70 d.C. e não podem ser funcionais até que um terceiro templo seja construído.
    Os sacerdotes levitas descendiam directamente de Arão, irmão de Moisés, e são reconhecidos como tal pelo Instituto desde que os seus avós paternos observassem a tradição. Hoje, possuem responsabilidades religiosas. Em tempos antigos, eles realizavam os deveres mais importantes dentro do templo.
    Cerca de um terço dos mandamentos da Torah (a Lei) não poderão ser cumpridos sem um templo, incluindo as obrigações dos levitas.
    Porém, um Terceiro Templo parece ainda um sonho volúvel com implicações assustadoras para muitos, visto que tanto um santuário, o Domo da Rocha, como a mesquita El Aksa, que é a terceira estrutura mais sagrada do Islão estão presentemente sobre o Monte do Templo.
    O director do Instituto do Templo, o rabbi Yehuda Glick, assume contudo acreditar que os muçulmanos poderão não estar contra a construção do templo. "Já temos alguns muçulmanos que estão secretamente em contacto connosco" - assegura o rabi.
     Adianta ainda o rabi que quando o templo for construído, os levitas terão de vestir as roupas apropriadas para cumprir as suas obrigações.
    Cada fato completo inclui um turbante, calças de túnica e cinto, e são costurados peça a peça a um custo de cerca de 2.500 shekels (aprox. 500 Euros).
    Foram necessários várias anos de intensas pesquisas para criar as vestes de acordo com a Lei judaica.
    Fio especial de linho foi importado da Índia e foram necessárias várias viagens ao exterior para se obter as cores correctas para as vestes, incluindo várias idas a Istambul para obter minhocas da montanha das quais se consegue obter a verdadeira cor carmesim.
    O segredo da correcta tonalidade azul da púrpura tinha sido perdido desde a destruição do Segundo Templo, visto que se tinha perdido a identidade do chilazon, o caracol de onde era extraído, até ter sido identificado recentemente como o murex trunculus, um molusco gastrópode produtor da púrpura encontrado perto do Mar Mediterrâneo.
    "O Templo não é uma mensagem só para o povo judeu. Ele reúne o mundo inteiro à volta de uma casa central de oração. Todos os profetas dizem que no final dos tempos todas as nações virão a Jerusalém e tomarão parte na construção do Templo" - afirma Glick.
Certamente os sinais são claros...
Shalom, Israel!
Publicada por Shalom em 7/02/2008


Terça-feira, Dezembro 04, 2007


INSTITUTO DO TEMPLO PREPARA COROA PARA O NOVO SUMO SACERDOTE

    O Instituto do Templo (Temple Institute) em Jerusalém anunciou esta semana que completou a coroa de ouro maciço que a Bíblia ensina dever ser levada pelo sumo sacerdote quando no cumprimento dos seus deveres no Templo - relatou a agência Israel National News.
    A preparação da coroa fez com que artistas seguissem escrupulosamente durante mais de um ano as instruções registadas na Bíblia, textos sagrados judaicos e diversas fontes históricas.
    A coroa ficará exposta na parte velha da cidade de Jerusalém até à altura em que o Terceiro Templo for construído no Monte do Templo e a casta sacerdotal de Israel reassumir as suas funções no local.
    O Instituto do Templo tem desde há décadas estado a preparar as roupagens e os artigos necessários para o dia em que o Terceiro Templo for reedificado.
    O Rabi Chaim Richman, director do Instituto do Templo, informou a agência noticiosa que a próxima tarefa será completar os projectos arquitectónicos para o Terceiro Templo, incluindo as projecções dos custos e os esquemas e detalhes das partes eléctricas e das canalizações.
    Impressionante? Nem tanto, para quem acredita que está próximo o momento em que o sonho dos judeus se irá finalmente concretizar, ao fim de 2 mil anos de espera...
Shalom, Israel!
Publicada por Shalom em 12/04/2007
http://www.shalom-israel-shalom.blogspot.com/

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

AMNÉSICO

AMNÉSICO

Valdemilson Liberato


Saber realmente quem somos e para que somos no mundo é uma tarefa bastante complexa, e, desde tempos remotos, tem sido alvo da especulação do imaginário humano, visto que, nem a razão da ciência, nem os fantásticos argumentos filosóficos, nem mesmos as mais variadas doutrinas religiosas puderam elucidar plenamente essas questões como fato. Porém temos, se não uma certeza, uma impressão nítida expressa em nosso ser, seja através do “mal-estar” caracterizado pela angústia ou pela sensação velada de desespero frente às ameaças do cotidiano, próprio do homem no decorrer de sua existência, que o que nos tornamos, está longe do que realmente somos em nossa essência.
Segundo Tournier (2002) se considerarmos a história da humanidade como sendo a história da vida de um homem - o homem-no-mundo -, diríamos que a infância da humanidade é a Antiguidade, a idade da poesia onde como uma criança-prodígio descobre sem muito esforço os tesouros mais verdadeiros da vida, especialmente no que se refere à arte, à poesia, a inocência que parece brotar de dentro do seu ser. É como se pudéssemos presenciar a graciosidade de uma criança nos seus primeiros anos de vida. Depois deste período singelo, observamos que a humanidade passa para outra fase de seu desenvolvimento denominada Idade Média, onde esta criança agora vai estar no período escolar, e onde vai absorver criteriosamente tudo o que lhe ensinam, acreditando piamente em tudo o que lhe dizem que deve crer. Como tendo um “mestre infalível”, dono de toda a verdade, acredita e acata todos os preceitos dos pais e professores detentores de toda a verdade e considerados como deuses. Esta é também a idade da religião aprendida e com isso, outro mestre surge com grande poder – a Igreja. Esta, com veste de autoridade suprema impõem-lhes todo um sistema de pensamento que vai manipular e direcionar de modo avassalador a sua existência. A aceitação da fé e da moral que lhes ensinam torna-se inquestionável e mesmo quando desobedece, não há dúvida de sua autoridade.
Esta criança em desenvolvimento chega a uma fase de sua existência em que se vai chamar de adolescência – a modernidade. Surge então uma grande quantidade de novos conhecimentos que vão gerar uma espécie de “fome” do saber e a necessidade de aspiração à experiência pessoal. Parece ser exatamente aí que se desenvolve uma gama de sentimentos contrários a quase tudo o que se acreditava anteriormente, pois percebem que seus antigos mestres tinham lhe ocultado uma série de fatos importantes, seja intencionalmente ou por ignorância, para a compreensão daquilo que lhe impunha como verdade. Assim sendo se rebela contra tudo e todos. Conclama o direito de pensar e conduzir-se por si mesmo e não segundo um sistema de pensamento já proposto ou de uma autoridade previamente constituída. Tenta a todo custo tornar-se o “dono da razão” quando percebe a fragilidade do saber humano. Debate com os seus antigos mestres sobre suas “verdades” e, quase sempre sai vencedor ao constatar que eles não possuem respostas para os seus questionamentos, agravado pelo fato destes, na maioria das vezes, não aplicarem em sua vida moral o que lhe ensinam com tanto esmero.
Este é o “jovem-no-mundo”, que tenta se afirmar em si mesmo, porém, sob uma forma oposicionista. Acreditando numa pseudo-liberdade, tenta prová-la infringindo a tudo aquilo, que até então, aceitara como verdade. Contudo essa liberdade não passa de um “espernear malcriado” sem objetivos mais concretos e criativos.
Da mesma forma, podemos analogamente perceber que a esta crise descrita como adolescência assemelha-se ao surgimento do Renascimento que como descreveu Tournier: “assumiu a uma posição contraria à cosmovisão que a Antiguidade e a Idade Média havia lhe ensinado.”(2002, p.16). E assim sendo, diz ele:

(...) substituiu a visão espiritual, religiosa e poética do mundo por uma visão científica, realista, econômica. Tal como adolescente, a humanidade lançou-se, apaixonada e tumultuosamente, ao estudo de doutrinas extremistas e contraditórias. Foi uma violenta reação contra a pretensão que tivera, no fim da Idade Média, de colocar toda a cultura e a vida num sistema rígido e lógico, proveniente da fé. (Id., p.16)

A visão do mundo então vai se transformar, como pela visão deste adolescente, numa farsa a ser contestada e rejeitada a todo custo. E para isso torna-se importante primeiro julgar e condenar os seus algozes e depois inverter toda a ordem até então constituída. É assim que o mundo moderno vai encontrar na Igreja a figura a ser culpada, assim como para o adolescente são os seus pais, de todas as mazelas que travaram o verdadeiro conhecimento da verdade existencial e com isso da sua própria identidade. Essa visão pode ser encarnada no pensamento de Nietzsche (1986) que argumenta que a idéia de Deus foi, até o presente momento, o maior obstáculo contra a existência
Segundo Tournier, outra característica peculiar a esse jovem adolescente é a injúria, onde há uma clara pretensão em suas atitudes em denegrir e zombar de seus pais, vendo hipocrisia na maioria de seus atos que configura um conformismo moral e social. Essa atitude dos jovens também pode ser evidenciada na figura do homem moderno. Sartre é um exemplo deste homem moderno que acredita existir de forma compulsiva uma grande farsa nos valores tradicionais. Tournier cita Gabriel Marcel, que evidencia “o ressentimento que anima Sartre contra tudo a que se possa chamar de “ordem social” ou simplesmente de ordem” Um exemplo disto pode ser visto na citação que Sartre faz de uma suposta figura fictícia do pai. Para Sartre: “ser pai de família é ser, sempre, e de modo inevitável, alguém que brinca de ser pai de família...” (Id., p. 16).
Esta é a suposta fase onde eclodem as dúvidas existenciais. Uma profunda incerteza permeia o modo como o homem se percebe, e sua incompreensão do que lhe é mais próprio. Agravado pelas inevitáveis possibilidades de escolhas que é inerente à sua existência surge o medo. É na dissociação entre a vida espiritual e vida natural que esse medo se estabelece.
Tudo o que se convencionou a chamar de “valores” foi colocado em “xeque” pela modernidade. Pretendeu-se não só ignorar o que é abrangido pela palavra “moral”, como também tudo o que se relaciona com ela, seja a filosofia, religião ou poesia.
Na era científica moderna o que é natural passa a ser apregoado com uma nova óptica. Através das perspectivas dos fenômenos observáveis, arraigadas em conceitos próprios e centradas em suas próprias leis - de grandezas, forças, pesos, etc. - a ciência repudiará tudo o que venha a proceder de um ponto de vista subjetivo. Assim é que o homem moderno rejeitará o que não é “fato”, e com isso, apesar das maravilhas da tecnologia, perde-se o sentido dos símbolos, da arte, da intuição, distanciando-se cada vez mais do que lhe é próprio e reduzindo pelo impessoal o leque de suas escolhas.
Pensamos na possibilidade então, que nesse processo de distanciamento do que lhe é mais próprio, o homem no mundo, no exercício da liberdade, naturaliza-se. Deixando o sobre-natural que o constitui – o Espírito – o Ser se apresenta ao que é mais próprio do mundo – o ente – em que se dar a pre-sença. Segundo Heidegger: “A pre-sença é um ente que, sendo, está em jogo seu próprio ser.”(1989, p. 256)
O livro da Gênesis (3.15-19) relata que, após ser expulso do Paraíso – que podemos traduzir como a perda do conhecimento e relacionamento com Deus, ou seja, intimidade – o homem se depara com as terríveis conseqüências da sua escolha. Lançado no mundo, sob a égide do pecado, vivencia as mazelas que irão acompanhá-lo na temporalidade – hostilidade, dor, sofrimento, desejo libidinoso, desigualdade, fadiga e morte. Tomando como base este livro da Bíblia, podemos supor que o ato da escolha do pecado deu início ao processo gradual da “alienação” do Ser e a conseqüente “desumanização” do homem. Distanciando-se de seu Criador, na historicidade de sua existência, o ser-no-mundo passa a delinear-se como uma espécie de criatura de sua própria criação, subvertendo, assim, os valores no que concernem sujeito e objeto, refletido no seu relacionamento com o outro, com Deus e consigo mesmo
Cremos ser oportuno ressaltar aqui, de forma despretensiosa, apenas como curiosidade, que a maioria dos povos na antiguidade, como por exemplo, os gregos e os romanos, entre outros, intuíam a criação do homem pela junção do sobrenatural com o natural, de finito e infinito. É interessante também perceber, que, no caso da cultura greco-romana, existem incríveis semelhanças com a concepção judaico-cristã quanto à criação e queda do ser humano. Na mitologia grega, por exemplo, segundo diversas versões míticas, foi uma divindade chamada Prometeu que criou do barro o primeiro homem, após misturar um pouco de terra com água, formando-o a semelhança dos deuses e assim sendo, diferenciando-o das outras criaturas.
Heidegger, em Ser e Tempo, também vai se utilizar desta concepção mística, que permeia a compreensão do homem sobre a sua origem existencial - constituído de corpo, alma e espírito - pela interpretação pré-ontológica da pre-sença, através de uma antiga fábula, na tentativa de pensar, o que ele denominará como sendo “cura”, o “cuidado”, ou seja, exatamente aquilo que abre ao homem o universo da pre-sença, o ser-no-mundo:

Certa vez, atravessando um rio,“cura” viu um pedaço de terra argilosa: cogitando, tomou um pedaço e começou a lhe dar forma. Enquanto refletia sobre o que criara, interveio Júpiter. A cura pediu-lhe que desse espírito à forma de argila, o que ele fez de bom grado. Como a cura quis então dar seu nome ao que tinha dado forma, Júpiter a proibiu e exigiu que fosse dado o seu nome. Enquanto “Cura” e Júpiter disputavam sobre o nome, surgiu também a terra (tellus) querendo dar o seu nome, uma vez que havia fornecido um pedaço de seu corpo. Os disputantes tomaram Saturno como árbitro. Saturno pronunciou a seguinte decisão, aparentemente eqüitativa: “Tu, Júpiter, por teres dado o espírito, deves receber na morte o espírito e tu, terra, por teres dado o corpo, deves receber o corpo. Como, porém, foi a ‘cura’ quem primeiro o formou, ele deve pertencer à ‘cura’ enquanto viver. Como, no entanto, sobre o nome há disputa, ele deve se chamar ‘homo’, pois foi feito de húmus (terra).(1989, p.263,264)

Bem, em suma, o que pretendemos nestas breves reflexões é apenas reforçar a evidência de que a busca e a tentativa de se pensar e falar sobre a gênese, a essência do Ser e seu propósito existencial, desvanecido na alma pela existência inautêntica do homem-no-mundo, não é uma pretensa fuga da realidade ou da especulação medíocre de  homens incultos, preponderante das religiões no mundo, mas principalmente de razão ôntico-ontológico da filosofia e até mesmo dos argumentos contraditórios da ciência empírica, visto ser, inerente ao homem, na angústia de sua existência sem Deus, procurar, desesperadamente, entender o sentido do seu Ser amnésico.



Valdemilson Liberato
Rio, 25/01/2010




REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS



BIBLIA DE JERUSALÉM. Edição de 1998

HEIDEGGER, M. Ser e tempo. Petrópolis: Vozes, parte I, 1989.

NIETZSCHE, F. Assim falou Zaratustra. 4 ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1986.

TOURNIER. P. Mitos e Neuroses: desarmonia da vida moderna. São Paulo: ABU Editora, 2002.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

CARTA A GERALDO VANDRÉ


CARTA A GERALDO VANDRÉ
                                                                                     João Batista da Silva Fagundes
 "Caminhando" ou
"Pra Não Dizer que Não Falei das Flores"
... Soldados perdidos de arma na mão......
Nos quartéis lhes ensinam antigas lições
de morrer pela Pátria e viver sem razão...(Geraldo Vandré) -

 Eu sempre gostei de arte
música e do violão!
Por isso peço atenção
Ao pobre e singelo aparte.
Que mando cá desta parte
Do fundo do coração
Ouvindo a tua canção
Que fala sobre os soldados
E julgas - pelo teu lado
"Perdidos de armas na mão..."

E vendo a toada bonita
Que deste ao Maracanã
Não pude ficar teu fã
No meio de tanta grita,
Pois eu conheço a desdita
Ao longo desta Nação
E sei que as armas na mão
Não andam sem resultado.
Bendigo todo o soldado
Que cruza o nosso torrão.

Não vi soldados perdidos
Na vastidão deste chão,
Se existem armas na mão
Também existem bandidos...
Gente que perde o sentido
Banhada em tola vaidade
E muito cedo se invade
Por cantilenas descrentes
Falando em nomes de gentes
Que nunca viu de verdade!

Andei por vales e serras
Sertões, caatingas e matas...
Não trago o ouro nem prata..
.Do fundo de tantas terras.
Fui muito feliz na guerra
E fiz gigantesca obra
A qual me deixa de sobra
Bom saldo na vida eterna
Pois trago a marca na perna
De três picadas de cobra...

Vibrei de emoção um dia
Ouvindo um primeiro trem
E a gente que o viu também
Chorava ali de alegria.
E em cada apitar sentia
O raio de nova aurora
Dos novos Brasis que agora,
Surgiam naquelas frentes
No meio daquela gente
Que sofre mais do que chora.

Levei à Amazônia as cores
Do nosso verde e amarelo
Fiz nosso Brasil mais belo
No passo dos meus tratores.
Semeei milhares de flores
Em terra virgem nativa
Que a gente verde oliva
Pisava por vez primeira
Levando junto à Bandeira
Mensagem mais que altiva.

Semeei milhões de dormentes
Sulcando brasileira.
Fiz coisas que na verdade
Nem eram prum tenente!
Fiz partos e arranquei dentes...
Dei aulas, semente e pão.
Do povo - fiz a Nação
E agora vem um Vandré
Dizendo que é tudo em vão!

Por isso sem ter violão
Também fabrico protesto
Pois vejo neste teu gesto
Pobreza de coração...
Que lança só confusão
No meio do povo inculto
Mas, nada constrói de vulto
Olhando a tua Nação.
Que te dá paz, luz e pão
Enquanto bradas estulto.

Que trazes junto contigo
Além do violão e o ouro...
Cantando com tal desdouro
Quem nunca negou-te abrigo
Quisera ver-te comigo
No fundo lá das fronteiras!
Levando a nossa Bandeira
A terras de gente nossa
E ver se ainda essa bossa
Ladrava dessa maneira.

Que sabes tu de pobreza...
Que sabes tu de Nação...
Se os passos que dás no chão
Nem sempre vêm com firmeza
Jamais sentiste na mesa
A falta do vinho e do pão
E agora vens ao violão
Com ares lá do Calvário
Fazer da asneira um hinário
Em nome desta Nação...

Não temos velhas lições
No culto da tradição.
Pois ela forja a Nação
O povo das multidões
Mas, tuas fracas canções
Não sentem que esse argumento
É chama, é calor, é alento
É tudo nos bons ideais
Dos bons soldados leais
Que ofendes neste momento

Nação é povo idealista
Nação - é feita de ideais
Não são cantigas banais
Das folhas de uma revista
Ninguém de pequena vista
Verá fundamento ou graça
Nas coisas que dão à raça
Sabor de grande Nação
São coisas que o teu violão
Não troca pela cachaça...

Tu nunca viste outra frente
Sem ser a do castelinho
Por entre copos de vinho
Por entre uísque fluente.
Mal sabes que toda gente
"Perdidas de armas na mão"
É que assegura-te o pão
De filho de papai rico
E evitam calar teu bico
De arauto da ingratidão.

Coitado de ti, meu filho
Que enterra nobre alento
Com gritos, sem fundamento
Que tanto ofusca-te o brilho
Tu nunca viste em teu brilho
O pranto, a tristeza, a dor
Rodando em rico motor
Com o sol e praia por lema:
O sol lá de Ipanema
A praia lá do Arpoador...

Enquanto aumentas a prata
Na pompa dos festivais
Há gente boa demais
Lutando por entre as matas
Levando vidinha ingrata
Sem água, sem luz, sem pão
Pregando a "velha lição"
Que aquilo é terra da gente
E alguém precisa ir à frente
Porque milhares não vão.

Alguém precisa ter raça
Porque milhares não têm!
Alguém precisa também
Zelar por toda esta massa
Antes que a voz da desgraça
Espalhe cantos bestiais
E à sombra dos festivais
Cultivem gritos de guerra
Fazendo de nossa terra
Sepulcro dos bons ideais.

Por isso faz heresia
Quem julga velha lição
Que foi-me posta na mão
Nos bancos da Academia
E hei de sentir um dia
De ver meu Brasil de pé
Embora vários Vandrés
Se ponham no seu caminho
Tentando lançar espinhos
Nas flores da nossa fé.

As flores que não mataste
Quando pisaste sobre elas
Pois são mais fortes e belas
Que aquelas que lá semeaste
As tuas nascem sem haste
Sem brilho, sem luz, sem nada
As minhas nascem douradas
Com muito mais fundamento
Deixando as tuas ao vento
Na poeira da minha estrada.

Desculpa se de meu posto
Respondo como soldado,
Não pude ficar calado
Com tal ofensa no rosto
Senti profundo desgosto
Nos gritos da multidão
E vi que as armas na mão
Não podem ficar de lado
Bendigo a voz do soldado
Que faz de um povo - a Nação!
(Itajubá, MG, 10 Nov 68 - João Batista da Silva Fagundes - cap Eng)

- Queridos seguidores permitam-me esta parte:
"Há alguns anos foi lançado em Israel um selo postal em homenagem aos soldados que tombaram na guerra. O selo mostrava um soldado com um capacete e um manto de oração. Será possível simbolizar de maneira mais precisa o poder da oração? Dificilmente. Aquele que ora luta – e o lutador ora. Nossa batalha espiritual é um verdadeiro golpe no ar quando não oramos. Se sua vida de oração não acompanha a luta que lhe foi designada, você vai ser derrotado. Ai de nós se anunciarmos a Palavra de Deus sem que antes tenhamos batalhado de joelhos." (Chamada.com.br)
O fato é que esta poesia bateu forte no coração deste velho soldado.
Graça e Paz
Valdemilson Liberato