sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

CULPA

CULPA


Valdemilson Liberato
    Ao homem foi dada a liberdade para o pecado. Pecar é desobedecer a Deus. Contudo, foi o próprio Deus que criou o homem com o atributo da volição, mas não do pecado. O pecado surgiu como atributo da reivindicação do homem pela escolha pessoal e a escolha, atributo da liberdade do homem. Assim sendo, toda escolha leva ao homem duas possibilidades diante de Deus: dependência ou independência. Além disso, Deus, também, capacitou o homem com o discernimento, e o orientou quanto à melhor escolha a ser tomada – vida, na plena dependência de Deus, contudo, este optou pela sua total independência de escolha - morte, por isso são indesculpáveis quando transgridem em suas escolhas. Ao ser livre para escolher na sua independência de Deus, o homem se angustia pela impossibilidade da não escolha e pelas conseqüências das más escolhas. Assim, no homem, desenvolve-se uma sensação interna de mal-estar proveniente do sentimento de transgressão denominado, muitas vezes, por ele de culpa.
    Esta é um das sensações mais constantes que assola o homem-sem-Deus na sua existência, até mesmo os que dizem conhecê-Lo. Todavia, para os verdadeiros discípulos do Senhor Yeshua, torna-se impossível o compartilhar desse sentimento, pois pela Graça da metanoia, se santificaram na Verdade e passaram a viver em amor, o que é antagônico à sensação de culpa.
    O sentimento de culpa que assola o homem sem conversão, esta atrelado ao egocentrismo que o determina por suas escolhas. Assim é que, como o apóstolo Pedro antes do dia de pentecoste, apesar de poder estar constantemente perto do Mestre, na hora "H", o homem que não se converteu ao Senhor, nega-o três vezes.

Shalom.

Liberato

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Gênero e Sexualidade no Cotidiano Escolar do Adolescente

“Gênero e Sexualidade no Cotidiano Escolar do Adolescente”

Valdemilson Liberato

    Ao evocarmos as questões que envolvem gênero e sexualidade no cotidiano escolar dos adolescentes, necessariamente nos vemos obrigados a dirigirmos um olhar, não só sobre os conceitos de gênero e sexualidade, esclarecendo sobre a abrangência do tema e destacando às relações destes aos movimentos sociais por direitos humanos, mas também, ao próprio conceito de adolescência.
    Vemos nos textos de Marília Pinto de Carvalho (2008. P.95) o surgimento de um importante movimento social que começa a se expandir no final do século XIX voltado para estender o direito de voto às mulheres o qual se expandiu para além do seu sentido reivindicatório, passando não só a exigir a igualdade de direitos em termos políticos e sociais, mas, também se constituí em crítica teórica, introduzindo aspectos inteiramente novos na abordagem de temas como a família, sexualidade, trabalho doméstico, etc., enfatizando, principalmente, a formação subjetiva das identidades sexuais e de gênero.
    Esse movimento feminista que se insurge sobre as relações de poder entre homens e mulheres cria o conceito de gênero para se contrapor à idéia de essência pautada no determinismo criacionista, biológico, como explicação para os diferentes comportamentos e papeis entre os sexos que se justificaria por uma visão naturalizada, imutável e universal. Embora inicialmente esse movimento tivesse a intenção de alertar para as deturpações do entendimento humano sobre essas relações entre os sexos e as condições de exploração e dominação que as mulheres estavam submetidas, o conceito de gênero vai, por uma parte, desenvolver-se em direção a uma banalização do seu uso como sinônimo de estereótipos sexuais ou identidades sexuais chegando às bases dos parâmetros de controle político educacional estabelecido como referência curricular na educação infantil, contaminando a práxis escolar através do determinismo na construção de uma identidade sexual dos indivíduos em consonância às concepções político-sociais reveladas na cultura sobre a sexualidade.
   Com isto, o que podemos perceber é que, embora intimamente relacionadas, identidade de gênero e identidade sexual não são a mesma coisa, a primeira está relacionada com a identificação histórica e social do sujeito que se reconhece como feminino ou masculino, a segunda, com a maneira como os indivíduos se articulam com a experiência dos desejos que são construídos ao longo de suas vidas. Contudo o que vemos é que a sexualidade tem sido alvo de constante controle por diversos aparatos culturais, principalmente por parte da escola, e isto pode ser percebido inclusive nos conteúdos dos livros didáticos e para-didáticos, revelando um posicionamento conservador dos educadores na tentativa de moldarem os comportamentos considerados mais apropriados para meninos e meninas.
    Apesar dessas tentativas de controle por parte da sociedade-escola o que podemos notar é uma espécie de “rebelião” no comportamento, principalmente dos adolescentes, aos paradigmas, quando a questão identitária entre gênero e sexualidade. Porém para entendermos um pouco mais sobre essa “rebeldia” torna-se necessário ressaltar a concepção biopsicossocial vigente sobre adolescência como sendo uma fase no desenvolvimento humano em que o individuo é estigmatizado como um ser que se encontra em “processo de metamorfose” entre a infância e a idade adulta. Segundo Ozella (Adolescência: uma perspectiva crítica), a adolescência não é um período natural do desenvolvimento, embora, como podemos notar, esta pode torna-se um período em que se observa uma confusão de papeis e dificuldade do individuo estabelecer uma identidade própria. Alguns pesquisadores afirmam que o jovem encontra nesta fase uma espécie de “moratória”, um paradoxo entre a exigência social do comportamento maturo e o bloqueio do que lhe impede, por ser considerado imaturo. Um prolongamento do período de aprendizagem dita necessária para sua inserção no mundo adulto. E é exatamente nesse processo de confusão de papeis que eclode uma das questões mais polemicas, ou seja, as relacionadas à sexualidade e a necessidade de apresentá-la ao mundo adulto como comprovação da sua condição de possuidor de tal poder. Contudo, essa exposição da sexualidade pelos adolescentes, embora não padronizada, ou seja, não existindo uma comprovação sistemática que estabeleça uma relação comprobatória de normalidade entre esses atos como sendo de uma fase específica do desenvolvimento humano, de forma desafiadora e na maioria das vezes exacerbada, recebe uma contra-investida dos padrões tradicionais que direcionam o cotidiano escolar.
    Essa postura conflitante, como exemplo, pode ser percebida recentemente através do surgimento de um adereço usados pelos adolescentes, totalmente investido de conotação sexual. Refiro-me ao uso de pulseiras coloridas, uma espécie de código para experiências sexuais, onde cada cor significa um grau de intimidade, que vai desde um simples abraço até o ato sexual propriamente dito. O que realmente o jovem quer dizer com isto? Talvez, penso eu, possa ser um alerta para uma sociedade confusa que, na tentativa de reverter um quadro de domínio “machista” e heterossexual, vem gradualmente estabelecendo e divulgando padrões de comportamentos sexuais exacerbados e promíscuos no “mundo dos adultos”. Qual o papel da família e da escola no contexto da educação sexual e orientação deste adolescente no meio social? Na verdade, o que podemos notar é que tratar de sexualidade na família e nas escolas envolve diversas questões e polêmicas, devido à complexidade do tema e as diferentes visões e crenças daqueles que compõem o contexto familiar e escolar influenciados pela permissividade de uma sociedade amoral.
    Outro fator preponderante quanto à questão do gênero e sexualidade no cotidiano escolar pode ser visto, conforme é pontuado pela Marília, na questão do estereotipo arraigado nas concepções dos professores sobre um perfil padronizado adequado na avaliação qualitativas do aluno segundo e sua masculinidade ou feminilidade.
    Marília revela que, segundo pesquisas realizadas, na avaliação de algumas professoras sobre o despertar da sexualidade nas meninas e o êxito escolar, há a incorporação de uma serie de características de uma feminilidade considerada sedutora a qual levaria a um comprometimento no desempenho escolar. Desta forma, padrões de feminilidade mais erotizadas seriam avaliadas por estas professoras como negativas frente ao desempenho escolar. Elas afirmavam que algumas meninas bem-sucedidas estariam decaindo em seus rendimentos pelo aflorar da sexualidade, onde o foco passara às questões de namoro em detrimento das tarefas escolares. Outro fator interessante quanto à avaliação realizada por alguns professores sobre a postura mais adequada do adolescente como condicionante para um bom desempenho escolar, está relacionada à “dose certa de masculinidade e feminilidade” que cada um deles deve observar e que servirá como baliza classificadora entre o bom e o mau aluno.
    Por fim, o que constatamos é que falar sobre as relações entre gênero, sexualidade e adolescência, independente do contexto e que esta temática se apresente, nos traz à tona questões subjetivas tão complexas que nos vemos em constantes contradições daquilo que falamos com aquilo que pensamos. Por isso, embora percebamos a importância deste assunto no processo de desenvolvimento psíquico e social do individuo, podemos apenas vislumbrar esse processo e suas implicações de forma parca. Contudo, acreditamos que este assunto tem um valor tão especial no que se refere ao propósito da educação dos nossos jovens e o futuro da sociedade, que deverá ser sempre motivo de incessantes pesquisas, não só por parte daqueles que pertencem a este seguimento da sociedade, mas por todos aqueles que amam seus filhos e pretendem ver uma sociedade mais “sadia”.

sábado, 6 de fevereiro de 2010

PSICOTERÁPICO

PSICOTERÁPICO
Valdemilson Liberato

    Por mais esforços que se tenham empreendido durante décadas na compreensão do comportamento humano e suas vicissitudes, visando uma prática mais eficaz na técnica psicoterapêutica, fica claro que ainda estamos “engatinhando” diante da complexidade desse entendimento e suas práxis.
    A princípio acreditamos que, para falar sobre qualquer possibilidade de se empreender uma ajuda psicoterapêutica ao “homem perdido de si”, vagando em uma existência inautêntica, torna-se imprescindível que o ajudador esteja, ele mesmo, ciente de quem ele é e de suas possibilidades. Segundo o filósofo Heidegger (1989) não se deverá, nessa ajuda, se deter na busca de instâncias intrapsíquicas, mais sim no “cuidado”, sabendo-se “ser-no-mundo-com-o-outro”, para não cair em interpretações apriorísticas ou explicações causais sobre a realidade existencial do paciente. Se há alguma interpretação, ela deve ser fruto da elaboração temática de uma existência que se explicita enquanto projeto. Nisto consiste a possibilidade do psicoterapeuta, através da hermenêutica, facilitar que o indivíduo remeta-se a si mesmo, estimulando-o a reconhecer suas escolhas, sejam impessoais, sejam pessoais e a questionar-se no sentido de apropriar-se de suas questões. Assim sendo, o objetivo da psicoterapia não é enquadrar o paciente em padrões morais ou em modelos teóricos, mas buscar compreender as possibilidades singulares de existir de cada um, tal como ele as experimenta em suas relações com as pessoas e coisas que lhe vêm ao encontro no mundo. Para isto, torna-se imprescindível estar ciente do caráter originariamente de abertura do homem sempre em correspondência com o horizonte histórico de sentido do ser. Tendo isso em mente o psicoterapeuta busca fazer com que o homem se revele no que ele tem de único, de particular, para que ele possa encontrar o seu caminho, se responsabilizar por suas escolhas. A partir do momento que ele sabe quem ele é, ele demonstra quem ele quer ser.
    Heidegger, nos diálogos com Medard Boss, em Seminários de Zollikon, (2001) fala sobre as peculiaridades do lugar do “querer-ajudar médico”, como sendo aquele que: “deve-se ser útil no sentido daquilo que cura, isto é, como aquilo que conduz o homem a si mesmo”
Diz ele:

(...) o homem é essencialmente necessitado de ajuda, por estar sempre em perigo de se perder, de não conseguir lidar consigo. Este perigo é ligado à liberdade do homem. Toda questão do poder-ser-doente está ligada a imperfeição de sua essência. Toda doença é uma perda da liberdade, uma limitação da possibilidade de viver.(Id, p.180)

    Contudo, o homem não pode “achar-se”, estando enfraquecido da consciência de quem ele é. Bombardeado pelas solicitações do mundo, este, condenado pela liberdade de suas escolhas, sente-se esmagado pelo peso da responsabilidade das conseqüências dessas escolhas. Com isso, usa de verdadeiras estratégias existenciais no decorrer do tempo, para se isentar dessa insuportável responsabilidade, já que não há garantias dos “acertos” de suas decisões. É neste sentido que vai buscar na impessoalidade apoio para as suas escolhas. Assim sendo, dentro das possibilidades que se lhe apresenta, busca desesperadamente o esquecimento da real condição de sua vulnerabilidade, deixando-se levar pelo “falatório”, tenta transformar em realidade o que é da ordem do imaginário. Não tendo como escapar da ambigüidade desse paradoxo, o homem, lançado no mundo, diante da angústia de ter que escolher e na incerteza das conseqüências desse ato, desespera-se. Kierkegaard vai caracterizar esta situação de “doença do espírito”, onde o ser vai perdendo gradativamente a consciência de seu Eu verdadeiro, assumindo-se, pelo apelo da massificação.
    Cabe então ao psicoterapeuta, na delicada pretensão de ajudar o outro, partir ao encontro deste onde ele estiver, ouvindo com extrema atenção seus anseios e medos, observando o seu modo de agir frente às situações que se lhe apresentam cotidianamente, propiciando-lhe a possibilidade de refletir sobre sua atual situação frente ao mundo, a ele mesmo e a Deus. Levando-o a uma percepção de si mesmo, possibilitando ver-se engendrado no impessoal, envolto a uma generalização, ao incógnito, e juntamente com ele ir desvelando gradativamente a sua singularidade, o seu Eu autêntico (zoé), o homem espiritual, e para que isso ocorra é necessário a morte do homem natural: o “eu-no-mundo” - (psyché), o “eu-para-morte”. No entanto, isto, segundo as Escrituras Sagradas, só poderá ocorrer na metanóia - substituição da razão do mundo pela fé em Cristo Jesus – para Deus.