sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

A EXISTÊNCIA INAUTÊNTICA

Bulltmann e a experiência da existência inautêntica


     Rudolf Karl Bultmann, nasceu em 20 de agosto de 1884 na cidade de Oldenburg, Alemanha. Iniciou seus estudos teológicos em 1903 na Universidade de Tübingen, passando no ano seguinte para a Universidade de Berlim e dois anos depois para a de Marburg, onde manteve estreita relação com Martin Heidegger. Ele foi um dos expoentes da teologia do século XX, fortemente influenciado pelo pensamento de Heidegger, especialmente da obra Ser e tempo. Sua teologia representa o esforço para tornar a pessoa de Jesus relevante e contextualizada aos contemporâneos, chamados por ele de “homem moderno”.
    Bultmann encontra na ontologia de Heidegger consistente referencial teórico para o desenvolvimento de seu projeto teológico.
    Uma de suas obras mais significativas, “História da Tradição Sinótica”, foi publicada em 1921. Contudo foi só em 1941, ao publicar o “Novo Testamento e Mitologia” que ele obteve repercussão mundial através do que se chamou de programa de desmitologização do Novo Testamento.
    Acometido por várias doenças na sua velhice, após perder a visão, veio a falecer em 30 de julho de 1976.
    Bultmann, na sua obra “Novo Testamento e Mitologia” empenha-se em demonstrar as semelhanças entre existencialismo e cristianismo. Para ele, o existencialismo é a versão secularizada do Novo Testamento.
    Mondin (2003) relata que Bultmann acreditava que o existencialismo tornara-se um instrumento benéfico para a interpretação da Bíblia, alegando que:
 "O existencialismo presta-se admiravelmente à interpretação da Escritura, não só por sua pré-compreensão da existência humana em geral, mas também por sua concepção do homem em suas características específicas". (2003, p. 194)
 E conclui dizendo:
"partindo dessa concepção do homem, o kerygma cristão é plenamente inteligível. Numa palavra, o esquema do kerygma enquadra-se perfeitamente com o esquema do existencialismo. Também fala de homem velho e de homem novo, de queda e redenção, de possibilidades e decisões. Por essa razão, deve-se considerar o existencialismo a filosofia “justa”, que “oferece as representações apropriadas para a interpretação da Bíblia”. (Id., p.194-195)
    Assim sendo, na sua interpretação, o conceito neo-testamentário que melhor descreve a existência humana é “soma”, a qual não deve ser entendida como substância, mas como forma de habitar o mundo. Assim, o ser humano pode ser chamado soma quando, tendo uma relação consigo mesmo, está apto para distinguir-se de si mesmo.
    Ele se apropria do conceito heideggeriano de existência inautêntica, reinterpreta este conceito e o caracteriza como não abertura ao futuro. Ou seja, o estado em que o ser humano se afasta da possibilidade determinada por Deus, como se fosse apenas atualidade. Em poucas palavras, é o ser humano sem fé.
    Bultmann, ao definir o conceito de angústia e existência inautêntica, afirma que, inautêntica é a existência em pecado que leva o ser a morte. Enquanto que a angústia tem o papel de revelar ao dasein que ele além de não estar em casa, não é senhor de sua existência. Assim sendo a existência inautêntica consiste em o ser humano procurar se encontrar no mundo e não em Deus. Com isso, a experiência da existência inautêntica não é algo sobre o qual se possa falar, mas vivê-la. Ao se ver como parte do mundo o dasein perde sua vida. Com isso, a existência inautêntica, então, passa a ser a existência que não leva em consideração o Criador, voltando-se para a criatura, para o mundo.
    Enquanto o conceito de cura em Heidegger marca a estrutura do dasein, para Bultmann o conceito de pecado não consiste apenas em atos isolados, em um tipo de suplemento ao ser humano, mas é o seu caráter essencial
GRAÇA E PAZ
Valdemilson Liberato.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Algumas considerações sobre Kierkegaard

    Sören Aabye Kierkegaard, considerado como o pai do existencialismo, nasceu a 5 de maio de 1813 em Copenhague. Apesar das tendências anti-sociais que demonstrava devido à criação tenebrosa, marcada pela severidade religiosa que o seu pai o submetera, formou-se em 1840 no curso de Teologia, na Universidade de Copenhague. Entre seus primeiros escritos mais famosos, estão "Temor e Tremor", "A Repetição". Sua obra mais importante foi Enten-Eller (Ou Isto ou Aquilo) dedicada a sua ex-noiva Regina.
    A teologia de Kierkegaard arremeteu-se contra todas as instituições sistemáticas de pensamento e contra todos os sistemas de pensamento. Acreditava que o homem, perdido no discurso do progresso mecânico se encontra desesperado. Sua única esperança encontra-se na compreensão da própria existência, que é a única realidade finita. Contudo essa compreensão só se dá pela fé.
    Em outubro de 1855, Kierkegaard sofreu uma queda na rua e foi hospitalizado, com paralisia nas pernas. Recusou-se a receber assistência religiosa e faleceu quarenta dias depois.
    Kierkegaard nos lembra que nossa maior dificuldade não está por termos um “Eu” e não ficarmos leais a ele, mas que freqüentemente nós nem ao menos achamos em nós mesmos um “Eu” autêntico que mereça tal lealdade. Podemos perder o “Eu” e voltar-nos para atividades exteriores como uma camuflagem de nosso vazio interior.
 Em suas reflexões pautadas na dialética, acredita que o homem, escolhe sua própria forma de existir e sendo assim vai distinguir três modos fundamentais de viver do homem no mundo no caminhar ao transcendente, a qual denominou de "Stadium". São estes: o estético, o ético e o religioso:
- Modo de vida estético. O esteticista vive no instante e não conhece outro fim da vida senão gozar o instante que passa. Infiel, quer sempre provar novidades, foge permanentemente ao tédio, recusa engajar-se, são os Don Juans ou o intelectual cético e diletante. O tipo de vida estético não proporciona realização àquele que lhe dedica a vida.  Kierkegaard percebeu que neste estágio de vida os objetivos não são claros e se perdem por não haver satisfação. 
- Modo de vida moral ou ético.  No modo de vida moral ou ético o homem encarna as regras universais do dever. Trabalhador consciencioso, marido e pai devotado, leva tudo a sério, é pouco flexível, prisioneiro de idéias acabadas, e se crê cidadão exemplar. Este modo de vida é marcado essencialmente, por uma vida coerente governada por normas morais.
- Modo religioso. No modo de vida religioso o homem não está submetido a regras gerais, mas é um indivíduo diante de Deus. Sua relação com Deus não se traduz em conceitos e regras gerais, mas em inspiração fora do universo da razão humana.     
    Kierkegaard entendia que os estágios estéticos e éticos não podiam existir sem o estágio religioso.  Em outras palavras, o religioso estava presente tanto no estético quanto no ético. Deste modo, o religioso – o crente (o verdadeiro cristão) e não o crédulo (a cristandade) - é um estágio conseqüente, pois é a partir da desordem dos estágios inferiores que se tem a possibilidade de encontrar a realidade superior da vida religiosa. Contudo, requer-se por ela uma decisão. Esta é a decisão que o Ser em busca de si precisa compreender para encontrar-se.
    Ele afirmava que o homem vive na ilusão de ser o que de fato não é. Com isso, distanciado do que é, angustia-se, torna-se queixoso da falta de liberdade, como que cativo na plena liberdade de ser e sem o conhecimento de si mesmo na liberdade de ser, desespera-se. Assim sendo podemos compreender que quem desespera quer, no seu desespero ser ele mesmo.
    Este homem ao ser no mundo, perde-se em sua existência puramente exterior e esquece do Ser em si mesmo. Ao escolher por não ser, torna-se outro no mundo. Assim sendo, inautêntico, procura ser feliz através da ilusão da temporalidade. Busca nas coisas momentâneas o motivo de sua existência. Contudo, mesmo quando imerso na inconsciência do que lhe é mais próprio, sente que algo lhe falta. Um sentimento de vazio o incomoda, como se a insatisfação do não ter o condenasse a uma maldição eterna da busca do ter para ser. E assim, por mais que conquiste os seus “sonhos”, sempre restará a impressão em sua alma da incompletude.
    Para Kierkegaard estar inconsciente ou não aceitar que se tem um Eu, ou seja, o ser um Ser espiritual, ou até mesmo na incapacidade de querer ser, é não compreender quem se é de fato. Pois, para ele, o homem é uma síntese de finito e infinito. De sua relação consigo mesma e com Deus. E é exatamente da discordância interna dessa síntese consigo própria e em relação a Deus, que surge o “desespero humano”.(2003, p.34)
    Para o apóstolo Paulo (I Co.15,45) como para a tradição bíblica a psyché (alma) é o princípio vital que anima o corpo humano, ou seja, a vida natural. Criada pela junção do espírito (pneuma) ao corpo (soma), formando assim o “Eu” – (zoé), o “eu do homem para Deus”, o eu infinito, o Kierkegaard chama de “eu teológico” (Id., p.75) que em sua origem, passa a ser a sede da vida moral e dos sentimentos. Contudo, como resultado da desobediência à Deus, afastado do que lhe e mais próprio, tornou-se o “eu” derivado do pecado: o “eu humano” (psyché), sede de todas as paixões humanas e sucumbido aos anseios do mundo. 
    No princípio, pela doutrina do pecado original, Paulo, baseado nas Escrituras, descreve que o pecado passou a habitar o homem, e assim, a morte, conseqüência do pecado, entrou no mundo a partir da falta de Adão. O pecado separou o homem de Deus. Esta separação é a morte espiritual da qual a morte física é apenas um sinal. Nasce assim o “eu-para-morte”. A psyché, desta maneira, torna-se a sede do eu perdido, o eu inautêntico, o eu do ser-para-a-morte. E é, paradoxalmente, a partir do confronto com a morte que o ser, abre-se à possibilidade para o existir autêntico. É exatamente pela possibilidade do não-ser que a morte nos abre, revelando nossa finitude, que descobrimos as possibilidades do ser.
GRAÇA E PAZ.
Valdemilson Liberato

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

PROCURAM-SE PASTORES EVANGÉLICOS


PROCURAM-SE PASTORES EVANGÉLICOS

 “Eu sou o bom pastor. O bom pastor dá a vida pelas ovelhas. O mercenário, que não é pastor, a quem não pertencem as ovelhas, vê vir o lobo, abandona as ovelhas e foge; então, o lobo as arrebata e dispersa. (João 10:11-12).


  Empresa Evangélica S.A. com sede no Rio de Janeiro e com filiais em todo o Brasil, necessita com urgência, para contratação imediata, de Pastores Evangélicos com Especialidade em “Apascentar Rebanhos”.
  Para esse cargo é preciso que os candidatos sejam homens de oração, conheçam bem a Bíblia, sejam fieis a Palavra e que verdadeiramente se importe com cada ovelha, cuidando com todo zelo e amor a ponto de se empenhar com afinco para que nenhuma se extravie do rebanho que lhes forem confiadas.
  É necessário que sejam irrepreensíveis; não cobiçosos de sórdida ganância, conservando o mistério da fé com consciência limpa; temperantes, sóbrios, modestos, hospitaleiros, aptos para ensinar; não dados a bebida alcoólica; não violentos, porém cordatos, inimigos de contendas, não avarentos; esposo de uma só mulher e que governem bem a própria casa, criando os filhos sobre disciplina, com todo o respeito; não sejam neófitos e que possuam, também, referências externa de vida santa em Cristo.
  A Empresa oferece excelente salário, compatíveis com o mercado cristão, plano de saúde vitalício estendido a toda sua família e um extraordinário plano de carreira.
  Obs.: Não aceitamos para este cargo palestrantes religiosos, nem animadores de púlpitos.
  É fundamental que todos os candidatos ao cargo oferecido entendam bem o contexto bíblico de Ezequiel 34:
E veio a mim a palavra do SENHOR, dizendo:
Filho do homem, profetiza contra os pastores de Israel; profetiza, e dize aos pastores: Assim diz o Senhor DEUS: Ai dos pastores de Israel que se apascentam a si mesmos! Não devem os pastores apascentar as ovelhas?
Comeis a gordura, e vos vestis da lã; matais o cevado; mas não apascentais as ovelhas.
As fracas não fortalecestes, e a doente não curastes, e a quebrada não ligastes, e a desgarrada não tornastes a trazer, e a perdida não buscastes; mas dominais sobre elas com rigor e dureza.
Assim se espalharam, por não haver pastor, e tornaram-se pasto para todas as feras do campo, porquanto se espalharam.
As minhas ovelhas andaram desgarradas por todos os montes, e por todo o alto outeiro; sim, as minhas ovelhas andaram espalhadas por toda a face da terra, sem haver quem perguntasse por elas, nem quem as buscasse.
Portanto, ó pastores, ouvi a palavra do SENHOR:
Vivo eu, diz o Senhor DEUS, que, porquanto as minhas ovelhas foram entregues à rapina, e as minhas ovelhas vieram a servir de pasto a todas as feras do campo, por falta de pastor, e os meus pastores não procuraram as minhas ovelhas; e os pastores apascentaram a si mesmos, e não apascentaram as minhas ovelhas;
Portanto, ó pastores, ouvi a palavra do SENHOR:
Assim diz o Senhor DEUS: Eis que eu estou contra os pastores; das suas mãos demandarei as minhas ovelhas, e eles deixarão de apascentar as ovelhas; os pastores não se apascentarão mais a si mesmos; e livrarei as minhas ovelhas da sua boca, e não lhes servirão mais de pasto”. (Ez.34:1-10)
Valdemilson Liberato





quinta-feira, 21 de julho de 2011

O Caso Justino - A Inquisição pós-moderna no Rio de Janeiro

    O  Caso Rozângela Justino refere-se ao processo de censura pública aplicado pelo Conselho Federal de Psicologia do Brasil (CFP) à psicóloga brasileira Rozângela Alves Justino por oferecer tratamento a pacientes que quisessem deixar a homossexualidade.O CFP confirmou a censura pública anterior imposta pelo Conselho Regional de Psicologia do Rio de Janeiro, afirmando que a conduta da psicóloga contraria a determinação da Organização Mundial da Saúde de 17 de maio de 1990 e a Resolução CFP n. 001/99, de 22 de março de 1999, do CFP, que diz que “a homossexualidade não constitui doença, nem distúrbio e nem perversão” e que, pois, “os psicólogos não colaborarão com eventos e serviços que proponham tratamento e cura das homossexualidades”.
    Apesar disso Rozângela, que afirma ter “atendido e curado centenas” de pacientes gays em 21 anos, diz ver a homossexualidade como “doença” e que algumas pessoas têm atração pelo mesmo sexo “porque foram abusadas na infância e na adolescência e sentiram prazer nisso”.
    A cassação de Rozângela, que atende no centro do Rio, foi pedida por associações gays e endossado por 71 psicólogos de diferentes conselhos regionais.
    Segundo Rozângela, que já foi condenada a censura pública no conselho regional do Rio no final de 2007, “o movimento pró-homossexualismo tem feito alianças com conselhos de psicologia e quer implantar a ditadura gay no pais” É por isso que o conselho de psicologia, numa aliança, porque tem muito gay dentro do conselho de psicologia, criou uma resolução para perseguir profissionais”
     “É a Inquisição para héteros”, diz o terapeuta
     Veja abaixo trechos de uma entrevista feita com a psicóloga em 2009:
FOLHA - Como a sra. vê o homossexualismo?
ROZÂNGELA ALVES JUSTINO - É uma doença. E uma doença que estão querendo implantar em toda sociedade. Há um grupo com finalidades políticas e econômicas que quer estabelecer a liberação sexual, inclusive o abuso sexual contra criança. Esse é o movimento que me persegue e que tem feito alianças com conselhos de psicologia para implantar a ditadura gay.

FOLHA - O que é ditadura gay?
ROZÂNGELA - Há vários projetos no Congresso para cercear o direito de expressão, de pensamento e científico. Eles foram queimados na Santa Inquisição e agora querem criar a Santa Inquisição para heterossexuais.

FOLHA - A que a sra. atribui o comportamento gay?
ROZÂNGELA - À expectativa dos pais, que querem que o filho nasça menino ou menina. Projetam na criança todos os anseios. E daí começam a conduzir a sua criação como se você fosse uma menina. Outra causa mais grave é o abuso sexual na infância e na adolescência. Normalmente o autor do abuso o comete com carinho. Então a criança pode experimentar prazer e acabar se fixando.

FOLHA -Mas nem todos os homossexuais foram abusados na infância.
ROSZÂNGELA - A maioria foi.

FOLHA - Como é o seu tratamento?
ROZÂNGELA - É um tratamento normal, psicoterápico. Todas as linhas psicológicas consagradas e vários teóricos declaram que a homossexualidade é um transtorno. A psicanálise a considera como uma perversão a ser tratada. À medida que a pessoa vai se submetendo às técnicas psicoterápicas, vai compreendendo porque ficou presa àquele tipo de comportamento e vai conseguindo sair. Não há nada de tão misterioso e original na minha prática. Sou uma profissional comum.
    Em novembro de 2009, Rozângela comunicou publicamente que, devido às pressões sofridas, inclusive ameaças de morte, e em acato à decisão do CFP, não mais ofereceria terapia para pessoas que desejam deixar o comportamento homossexual

domingo, 19 de junho de 2011

A LIBERDADE SEM LEI

    Vivemos uma época em que todos proclamam o direito a igualdade e liberdade. A angústia, a insatisfação, o hedonismo e a depressão, sintomas que permeiam o cotidiano do homem contemporâneo, tem como provável diagnóstico a falta desses dois direitos - igualdade e liberdade. Surge assim, por detrás dessa bela "bandeira", um movimento espúrio e perverso. Esse movimento que proclama o direito de igualdade e liberdade, tenta convencer a todos nós que o responsavel por esses males são os princípios morais e religiosos que balizam o comportamento dos indivíduos e assim, tentam impor mudanças perversas nas leis, costumes e valores sociais estabelecidos, com o intuito de satisfazerem os seus mais vis desejos.
    Tentam-se impor à maioria práticas comportamentais de uma minoria, veladas por uma aparência de igualdade. Assim sendo, para alcançar a tão sonhada liberdade, não se deverá medir esforços nem meios para este fim. Nas palavras de Dostoievsky: “Se Deus está morto tudo é permitido”. Contudo o que podemos observar é que ao mesmo tempo em que se intensifica o sentimento de liberdade, cresce a insegurança quanto ao que fazer e a capacidade de decidir, de modo adequado, no exercício dessa liberdade.

    A permissividade total é tão ameaçadora quanto à limitação da liberdade. Torna-se, então, de suma importância para se alcançar esta tão almejada liberdade sem Lei, a difícil tarefa de buscar o equilíbrio preciso entre estes dois imprescindíveis valores: a liberdade e a segurança.
    
Como qualquer exagero, a liberdade sem limite pode ser interpretada como um decréscimo da segurança e vice-versa. O homem atual vive uma ambigüidade paradoxal em que, ao mesmo tempo em que busca segurança, é impelido constantemente aos riscos e perigos de se reinventar para se manter livre. Esta é uma existência onde se torna necessário expor-se à insegurança de uma sucessão de reinícios para continuar buscando uma identidade que seja normativa, como comprovação do exercício da liberdade e igualdade.
    
Na tentativa de administrar o caos da liberdade sem limites, por exemplo, a concepção da instituição do casamento perde o seu sentido mais próprio de ser – a união legal e permanente entre um homem e uma mulher pautada no amor, respeito e fidelidade. Pela alegação da igualdade e da liberdade de direitos, independente de gênero, normas, lei ou estatutos, surgem modos bizarros, promiscuos e inconseqüentes de relacionamento conjugal.
    
Nesta vida de liberdade iníqua, tem-se urgência em ser feliz e assim o amor é substituído pela paixão. Os papéis institucionais definidos rompem-se deixando fluídas as fronteiras entre homem, mulher e crianças. Surge a família “igualitária”. A relação conjugal torna-se mais instável na busca dessa “igualdade separatista” do gênero, baseada na individualidade. Essas uniões passam então a se sustentar, quase que totalmente, pelas satisfações sexuais e emocionais que, por sua vez, se tornam insustentáveis.
    
Padrões de relações afetivo-sexuais, antes vistos como desvios comportamentais, passam a ser estabelecidos, normatizados e justificados pelo argumento de "quebra de pré-conceitos", tornando-se apenas uma saudável variante do relacionamento humano e que deverão ser aceitos por todos, sob pena da lei.

    O casamento passa a ser visto apenas como um simples contrato entre pessoas e não mais como uma aliança entre um homem e uma mulher diante de Deus e dos homens. Como conseqüência há um espantoso aumento do número de divórcios em todo o mundo. A instituição família entra em colapso. Tentam-se criar novos modelos de "família": desde o reconhecimento das uniões heterossexuais sem compromisso, mas que perduram por certo tempo, chamadas de "estáveis", até mesmo, segundo a ética bíblica, nas abominações das uniões homossexuais. Cria-se, assim, a ilusão de uma sociedade igualitária formada pelo somatório dos indivíduos imorais e sem lei.
    
O Apóstolo Paulo descreve esse exercício da liberdade como impiedade e perversão dos homens que detêm a verdade pela injustiça:
    "Por causa disso, os entregou Deus a paixões infames; porque até as mulheres mudaram o modo natural de suas relações íntimas por outro, contra à natureza; semelhante, os homens também, deixando o contato natural da mulher, se inflamaram mutuamente em sua sensualidade, cometendo torpeza, homens com homens, e recebendo, em si mesmos, a merecida punição do seu erro. E, por haverem desprezado o conhecimento de Deus, o próprio Deus os entregou a uma disposição mental reprovável, para praticarem coisas inconvenientes, cheios de toda injustiça, malícia, avareza, homicídio, contenda, dolo e malignidade; sendo difamadores, caluniadores, aborrecidos de Deus, insolentes, soberbos, presunçosos, inventores de males, dosobedientes aos pais, insensatos, pérfidos, sem afeição natural e sem misericórdia. Ora, conhecendo eles a sentença de Deus, de que são passiveis de morte os que tais coisas praticam, não somente as fazem, mas também aprovam os que assim procedem."(Rm.1:28-32)
  Valdemilson Liberato






terça-feira, 3 de maio de 2011

sábado, 23 de abril de 2011

QUE PÁSCOA ESTAMOS COMEMORANDO?

    Embora a  festa cristã da Páscoa tenha origem judaica, o seu significado tornou-se diferente de sua origem. Enquanto para o Judaísmo, Pessach representa a libertação do povo de Israel no Egito, no Cristianismo alem da Páscoa representar a libertação de todos os que estavam separados de Deus pelo pecado, restaurados pela morte e ressurreição de Cristo, vai também assimilar, em sua comemoração, elementos pagãos através da alegoria de "morte-vida" , representados pela transição do inverno-primavera onde, Eostre, uma deusa germânica relacionada com a primavera, era homenageada todos os anos, no mês de Eostremonat. 
    Segundo o Livro do Êxodo, Deus mandou 10 pragas sobre o Egito. Na última delas, todos os primogênitos egípcios seriam exterminados, mas os de Israel seriam poupados. Para isso, o povo de Israel deveria imolar um cordeiro, passar o sangue do cordeiro imolado sobre as portas de suas casas, e o anjo passaria por elas sem ferir seus primogênitos. Todos os demais primogênitos do Egito foram mortos, do filho do Faraó aos filhos dos prisioneiros. Isso causou intenso clamor dentre o povo egípcio, que culminou com a decisão do Faraó de libertar o povo de Israel, dando início ao Êxodo de Israel para a Terra Prometida.
    A Bíblia institui a celebração do Pessach em Êxodo 12, 14: "Conservareis a memória daquele dia, celebrando-o como uma festa em honra de Adonai: Fareis isto de geração em geração, pois é uma instituição perpétua" .
    Contudo, em grande parte dos países cristãos, é costume na Páscoa a troca de ovos e coelhinhos de chocolate. No entanto, esse tipo de comemoração não é citado na Bíblia. Então de onde vem esse costume? Basta um pouco de curiosidade para descobrir que este costume é uma alusão a antigos rituais pagãos a deusa da fertilidade Ishtar ou Astarte. Na primavera, lebres e ovos pintados com runas eram os símbolos da fertilidade e renovação a ela associados. A lebre (e não o coelho) era seu símbolo. Suas sacerdotisas eram ditas capazes de prever o futuro observando as entranhas de uma lebre sacrificada. A lebre da deusa Eostre pode ser vista na Lua cheia e, portanto, era naturalmente associada à Lua e às deusas lunares da fertilidade. De seus cultos pagãos originou-se a Páscoa (Easter, em inglês e Ostern em alemão), que foi absorvida e misturada pelas comemorações cristãs. Os antigos povos nórdicos comemoravam o festival de Eostre no dia 30 de Março. Eostre ou Ostera (no alemão mais antigo) significa “a Deusa da Aurora” (ou o planeta Vênus). É uma deusa anglo-saxã, teutônica, da Primavera, da Ressurreição e do Renascimento. Ela deu nome ao Shabbat Pagão, que celebra o renascimento chamado de Ostara.
    Eostre era a "grande deusa mãe" saxônica da Alvorada, da Luz Crescente da Primavera e o Renascimento da Vegetação. Era conhecida pelos nomes: Ostare, Ostara, Ostern, Eostra, Eostur, Austron e Aysos. Esta Deusa estava também associada a lebres, coelhos e ovos.


    Segundo a Lenda, Eostre encontrou um pássaro ferido na neve. Para ajudar o animalzinho transformou-o em uma lebre, mas a transformação não processou-se completamente e o coelho permaneceu com a habilidade de colocar ovos. Como agradecimento por ter salvo sua vida, a lebre decorou os ovos e levou-os como presente para a Deusa Eostre. A Deusa maravilhou-se com a criatividade do presente e, quis então, compartilhar sua alegria com todas as crianças do mundo. Criou-se assim, a tradição de se ofertar ovos decorados na Páscoa, costume vigente em nossos dias atuais.
    Os ovos são símbolos de fertilidade e vida. Uma tradição antiga dizia que se deveria pintar os ovos com símbolos equivalentes aos nossos desejos. Mas, sempre um dos ovos deveria ser enterrado, como presente para a Mãe Terra.
   Por fim, depois de tudo o que foi dito acima, acredito que podemos ao menos perguntar: que Páscoa é essa que estamos participando e ensinando aos nossos filhos a comemorar? Por que não há o interesse, na maioria das Igrejas Cristãs, de esclarecer aos seus membros, a origem pagã desses costumes que nada tem a ver com o verdadeiro sentido da Páscoa e com a pessoa do nosso Senhor Yeshua (Jesus)? 
   Como disse o profeta Oséias:
   “O meu povo está sendo destruído, porque lhe falta o conhecimento. Porquanto rejeitaste o conhecimento, também eu te rejeitarei, para que não sejas sacerdote diante de mim; visto que te esqueceste da lei do teu Deus, também eu me esquecerei de teus filhos”. (Oséias 4. 6)

terça-feira, 22 de março de 2011

Vivendo com a Esquizofrenia

    A esquizofrenia não pode ser encarada como uma desgraça: tem que ser vista como uma barreira natural para nossos planos e desejos pessoais. Quando alguém na família adquire esquizofrenia é necessário que toda a família mude, se adapte para continuar sendo feliz apesar da dor. Os artigos científicos não publicam, mas o ser humano é capaz de ser feliz apesar da doença.
    A esquizofrenia pode desenvolver-se gradualmente, tão lentamente que nem o paciente nem as pessoas próximas percebem que algo vai errado: só quando comportamentos abertamente desviantes se manifestam. O período entre a normalidade e a doença deflagrada pode levar meses.
    Por outro lado há pacientes que desenvolvem esquizofrenia rapidamente, em questão de poucas semanas ou mesmo de dias. A pessoa muda seu comportamento e entra no mundo esquizofrênico, o que geralmente alarma e assusta muito os parentes.
    Não há uma regra fixa quanto ao modo de início: tanto pode começar repentinamente e eclodir numa crise exuberante, como começar lentamente sem apresentar mudanças extraordinárias, e somente depois de anos surgir uma crise característica.
    Geralmente a esquizofrenia começa durante a adolescência ou quando adulto jovem. Os sintomas aparecem gradualmente ao longo de meses e a família e os amigos que mantêm contato freqüente podem não notar nada. É mais comum que uma pessoa com contato espaçado por meses perceba melhor a esquizofrenia desenvolvendo-se. Geralmente os primeiros sintomas são a dificuldade de concentração, prejudicando o rendimento nos estudos; estados de tensão de origem desconhecida mesmo pela própria pessoa e insônia e desinteresse pelas atividades sociais com conseqüente isolamento. A partir de certo momento, mesmo antes da esquizofrenia ter deflagrado, as pessoas próximas se dão conta de que algo errado está acontecendo. Nos dias de hoje os pais pensarão que se trata de drogas, os amigos podem achar que são dúvidas quanto à sexualidade, outros julgarão ser dúvidas existenciais próprias da idade. Psicoterapia contra a vontade do próprio será indicada e muitas vezes realizada sem nenhum melhora para o paciente. A permanência da dificuldade de concentração levará à interrupção dos estudos e perda do trabalho. Aqueles que não sabem o que está acontecendo, começam a cobrar e até hostilizar o paciente que por sua vez não entende o que está se passando, sofrendo pela doença incipiente e pelas injustiças impostas pela família. É comum nessas fases o desleixo com a aparência ou mudanças no visual em relação ao modo de ser, como a realização de tatuagens, piercing, cortes de cabelo, indumentárias estranhas e descuido com a higiene pessoal. Desde o surgimento dos hippies e dos punks essas formas estranhas de se apresentar, deixaram de ser tão estranhas, passando mesmo a se confundirem com elas. O que contribui ainda mais para o falso julgamento de que o filho é apenas um "rebelde" ou um "desviante social".
    Muitas vezes não há uma fronteira clara entre a fase inicial com comportamento anormal e a esquizofrenia propriamente dita. A família pode considerar o comportamento como tendo passado dos limites, mas os mecanismos de defesa dos pais os impede muitas vezes de verem que o que está acontecendo; não é culpa ou escolha do filho, é uma doença mental, fato muito mais grave.
    A fase inicial pode durar meses enquanto a família espera por uma recuperação do comportamento. Enquanto o tempo passa os sintomas se aprofundam, o paciente apresenta uma conversa estranha, irreal, passa a ter experiências diferentes e não usuais o que leva as pessoas próximas a julgarem ainda mais que o paciente está fazendo uso de drogas ilícitas. É possível que o paciente já esteja tendo sintomas psicóticos durante algum tempo antes de ser levado a um médico.
    Quando um fato grave acontece não há mais meios de se negar que algo muito errado está acontecendo, seja por uma atitude fisicamente agressiva, seja por tentativa de suicídio, seja por manifestar seus sintomas claramente ao afirmar que é Jesus Cristo ou que está recebendo mensagens do além e falando com os mortos. Nesse ponto a psicose está clara, o diagnóstico de psicose é inevitável. Nessa fase os pais deixam de sentir raiva do filho e passam a se culpar, achando que se tivessem agido antes ou se tivessem feito algo no passado diferente, nada disso estaria acontecendo, o que não é verdade.

(PSICOSITE)

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

BIG BROTHER BRASIL

BIG BROTHER BRASIL
Texto de Luiz Fernando Veríssimo

    
    Que me perdoem os ávidos telespectadores do Big Brother Brasil (BBB), produzido e organizado pela nossa distinta Rede Globo, mas conseguimos chegar ao fundo do poço...A décima primeira (está indo longe!) edição do BBB é uma síntese do que há de pior na TV brasileira. Chega a ser difícil,... encontrar as palavras adequadas para qualificar tamanho atentado à nossa modesta inteligência.
    Dizem que em Roma, um dos maiores impérios que o mundo conheceu, teve seu fim marcado pela depravação dos valores morais do seu povo, principalmente pela banalização do sexo. O BBB é a pura e suprema banalização do sexo. Impossível assistir, ver este programa ao lado dos filhos. Gays, lésbicas, heteros... todos, na mesma casa, a casa dos “heróis”, como são chamados por Pedro Bial. Não tenho nada contra gays, acho que cada um faz da vida o que quer, mas sou contra safadeza ao vivo na TV, seja entre homossexuais ou heterosexuais. O BBB é a realidade em busca do IBOPE...
    Veja como Pedro Bial tratou os participantes do BBB. Ele prometeu um “zoológico humano divertido” . Não sei se será divertido, mas parece bem variado na sua mistura de clichês e figuras típicas.
Pergunto-me, por exemplo, como um jornalista, documentarista e escritor como Pedro Bial que, faça-se justiça, cobriu a Queda do Muro de Berlim, se submete a ser apresentador de um programa desse nível. Em um e-mail que recebi há pouco tempo, Bial escreve maravilhosamente bem sobre a perda do humorista Bussunda referindo-se à pena de se morrer tão cedo.Eu gostaria de perguntar, se ele não pensa que esse programa é a morte da cultura, de valores e princípios, da moral, da ética e da dignidade.
    Outro dia, durante o intervalo de uma programação da Globo, um outro repórter acéfalo do BBB disse que, para ganhar o prêmio de um milhão e meio de reais, um Big Brother tem um caminho árduo pela frente, chamando-os de heróis. Caminho árduo? Heróis?
São esses nossos exemplos de heróis?
    Caminho árduo para mim é aquele percorrido por milhões de brasileiros: profissionais da saúde, professores da rede pública (aliás, todos os professores), carteiros, lixeiros e tantos outros trabalhadores incansáveis que, diariamente, passam horas exercendo suas funções com dedicação, competência e amor, quase sempre mal remunerados..
    Heróis, são milhares de brasileiros que sequer têm um prato de comida por dia e um colchão decente para dormir e conseguem sobreviver a isso, todo santo dia.
    Heróis, são crianças e adultos que lutam contra doenças complicadíssimas porque não tiveram chance de ter uma vida mais saudável e digna.
    Heróis, são aqueles que, apesar de ganharem um salário mínimo, pagam suas contas, restando apenas dezesseis reais para alimentação, como mostrado em outra reportagem apresentada, meses atrás pela própria Rede Globo.
   O Big Brother Brasil não é um programa cultural, nem educativo, não acrescenta informações e conhecimentos intelectuais aos telespectadores, nem aos participantes, e não há qualquer outro estímulo como, por exemplo, o incentivo ao esporte, à música, à criatividade ou ao ensino de conceitos como valor, ética, trabalho e moral.
    E ai vem algum psicólogo de vanguarda e me diz que o BBB ajuda a "entender o comportamento humano". Ah, tenha dó!!!
    Veja o que está por de tra$$$$$$$$$$$$$$$$ do BBB: José Neumani da Rádio Jovem Pan, fez um cálculo de que se vinte e nove milhões de pessoas ligarem a cada paredão, com o custo da ligação a trinta centavos, a Rede Globo e a Telefônica arrecadam oito milhões e setecentos mil reais. Eu vou repetir: oito milhões e setecentos mil reais a cada paredão.
    Já imaginaram quanto poderia ser feito com essa quantia se fosse dedicada a programas de inclusão social: moradia, alimentação, ensino e saúde de muitos brasileiros?
(Poderiam ser feitas mais de 520 casas populares; ou comprar mais de 5.000 computadores!)
    Essas palavras não são de revolta ou protesto, mas de vergonha e indignação, por ver tamanha aberração ter milhões de telespectadores.
    Em vez de assistir ao BBB, que tal ler um livro, um poema de Mário Quintana ou de Neruda ou qualquer outra coisa..., ir ao cinema..., estudar... , ouvir boa música..., cuidar das flores e jardins... , telefonar para um amigo... , visitar os avós... , pescar..., brincar com as crianças... , namorar... ou simplesmente dormir.
Luiz Fernando Veríssimo

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

O DESEJO DO "PARA-SI" CONTEMPORÂNEO

O DESEJO DO "PARA-SI" CONTEMPORÂNEO
Valdemilson Liberato

    O homem na atualidade apresenta-se por um projeto de ser que, na sua aparência, parece anunciar, pelos sintomas de um tempo em que não se encontra sentido e não se apresentam contornos, um modo de viver irresponsável no trato com o outro, com o mundo e consigo mesmo.
    Nesta época que se apresenta na historicidade do homem como pós-moderna, os grandes esquemas explicativos caíram em descrédito e não há mais “garantias”, nem mesmo a “ciência” pode ser considerada a fonte da verdade. Esta é a época onde a distinção entre sujeito e objeto cedeu, na maior parte do mundo, ao de consumidor e objeto de consumo. O homem pós-moderno exacerbou-se na insatisfação de ser "Para-si" e busca desesperadamente, no ter, o que lhe falta – o "Em-si".
    O homem contemporâneo parece estar se distanciando demasiadamente de si pela impessoalidade, paradoxalmente, a medida que o mundo à sua volta o reflete, em seus apelos pela posse, ou seja, no desejo de ter para poder ser. Assim, o existir do "Para-si", na contemporaneidade, se aprofunda na impossibilidade de se apartar das viscosidades do querer ser pelo possuir, ou seja, “ser o fim próprio da existência do objeto. Sartre afirma que o homem nada mais é do que o seu projeto, e sendo assim, nesta época, ter, mais do que nunca, se mostra como “essência” para ser.
    Sartre salienta que, não importando a época, o projeto original do "Para-si" é sempre ser "Em-si". Como liberdade, condição inicial de sua ação para o modo de fazer-se, não se pode ser simplesmente, lhe cabe essa obrigação. O "Para-si", com efeito, é consciência, mas também e mais profundamente, liberdade. A liberdade presume possibilidades, e a possibilidade é o elemento gerador da ação do homem em liberdade. Por ser um contingente da existência humana a liberdade implica na impossibilidade da não escolha. Essas possibilidades que exigem escolhas (até mesmo a de não escolher), proporcionam o surgimento da angústia, seja porque estão escassas, ou, no outro extremo, porque existe um número muito grande de opções, ou ainda, por simplesmente existir escolhas, já que existir é escolher. Assim sendo, um colapso pode ocorrer tanto por muitas, quanto por poucas possibilidades abertas ao homem. Por isso, torna-se um verdadeiro problema de vida descobrir quais são as ações que se devem tomar, diante do temor da responsabilidade e pelas conseqüências destas ações.
    Na incerteza de suas escolhas, o homem, na construção de sua história, nunca esteve totalmente passivo diante das possibilidades que o mundo lhe apresenta. Contudo, na liberdade do ser, o ser-no-mundo, e assim, co-participante no que lhe traz possibilidades, buscou criar na “fantasia de ser”, as suas próprias possibilidades para, de certa forma, manter sob controle a angústia de ser liberdade. Uma dessas escolhas é, exatamente, não ser o que se é. É no cotidiano, imerso nas preocupações do dia-a-dia, que podemos nos negar a liberdade pela "má-fé".
    Existir é ser no mundo. E é na construção dialética desse mundo que o "Para-si" se esforça para realizar a impossibilidade de ser "Para-si-Em-si". Assim, podemos ver, no decurso do tempo, as variações particulares do modo de existir relacionadas às possibilidades que cada tempo disponibilizou, e as escolhas existenciais feitas.
    De certo modo, a existência na Antiguidade pode ser caracterizada como a época da poesia; A Idade Média como sendo a época da credulidade; A Modernidade, como a época do conhecimento e do desejo de liberdade preconizada pela rebeldia e rejeição contra quase tudo o que se acreditava, e de todos os valores constituído. Por fim surge a existência de hoje, a Pós-modernidade, que segundo Zajdsznajder (1992):
"O pós-moderno não tem a pretensão de transformar o mundo nem se apresenta como ideologia ou um modo de pensar. Parece mais uma condição a que se chegou quando o mundo moderno atinge o seu limite e começa a desaparecer". (1992,p.190)
    Podemos então concluir que enquanto a modernidade se caracterizou pela "morte de Deus", a pós-modernidade começou com o decreto da "morte do homem". A tragédia da condição pós-moderna é potencializada na busca desesperada da felicidade pela satisfação imediata dos desejos de posse dos objetos do mundo. Visto que o homem por ser um ser que só existe projetando-se a si próprio além do presente, a satisfação de um desejo imediato será sempre substituido por outro desejo e assim conseqüentemente.
    Seguindo a lógica da premissa que Deus não existe, a busca da felicidade sempre fracassará como objetivo último, visto que não havendo nenhum sentido prévio para existência, o “Para-si” deverá sempre se esforçar para construir, a partir de sua existência, a essência dos sentidos para sua vida e isto torna-se insuportável pois lhe revela o próprio despropósito da existência sem Deus. Desta forma, mesmo que o homem conseguisse satisfazer todos os seus desejos particulares ele não alcançaria a felicidade, já que um estado de completa satisfação dos desejos seria equivalente à morte. Segundo Sartre, o desejo de ser feliz através da posse dos objetos empíricos do mundo, caracteristica marcante do homem contemporâneo, está sempre pendente e é simplesmente uma particularização do desejo mais geral, do impossível – "ser-Deus".