sábado, 17 de julho de 2010

O EU CRISTÃO

O EU CRISTÃO.
Valdemilson Liberato

    Quando nós chegamos neste mundo nos deparamos com uma realidade dúbia de cultura, hábitos, costumes, mitos, dogmas e outros tantos valores pré-estabelecidos por interesses político-sociais humanista. Digamos que estamos, durante algum tempo, indefesos e a mercê das “verdades” que nos são impostas em todas as fases do nosso desenvolvimento psíquico-social.
    Embora sejamos criaturas feitas à imagem e semelhança de Deus, ou seja, constituídas de volição, sentimentos e inteligência, não podemos negar, sem querer entrar no mérito do pecado original, que tendemos aos desejos lascivos e ao extremo egoísmo em tudo que fazemos, quase sempre, fruto do comportamento que assimilamos desta sociedade. Somos criaturas sociais “erótico-egoístas” por excelência. Precisamos do outro para formar o nosso “eu”; e é só a partir deste eu que percebemos o outro. É interagindo com o outro que verdadeiramente percebemos não apenas o outro em nós, mas, principalmente, nós no outro. Talvez seja, exatamente por isso, que procuramos no outro, para amá-lo, aquilo que nos falta, que não nos revela.
    Aprendemos, à duras penas, que vivemos em um mundo que não é só nosso, mas que é também do outro, e dividir, de modo justo, algo que nos é tão essencial é sempre muito difícil, pois somos, por essência, ou melhor, por conseqüência, injustos. Temos a tendência de interagir com o outro visando o proveito próprio. Nossos pais, cônjuge, filhos amigos, etc., são considerados “bons” para nós, pelo percentual das benesses que nos oferecem, ou seja, se são capazes de realizar muitos dos nossos desejos, na maioria, velados por um paradigma social que estabelece o modelo adequado para ser considerado bom: pai, cônjuge, filho, amigo... E, até mesmo, quando enlutados de um desses queridos, sofremos e choramos não por ele, mas porque ficamos sem ele.
    Por outro lado, acreditamos que não somos apenas aquilo que apreendemos do outro e com o outro. Trazemos para este mundo algo inato, uma herança interna, genética, espiritual, individual que, apesar do outro, nos diferencia e nos responsabiliza pelo cuidado não só de nós mesmos, mas também do outro. A verdade é que somos produtos da junção do inato e do social, ou seja, espírito e alma, todavia, neste mundo, a alma predomina sobre o espírito.
    Ao ouvir falar de Jesus, muitos de nós, até  nos intitulamos cristãos e acreditamos viver como tal - libertos dos ditames do mundo - contudo, continuamos apresentando, cotidianamente, um comportamento típico dos "escravos do mundo". Mas o que é ser cristão? Será que somos reconhecidos, pelo outro, como discípulos de Cristo? E por Jesus? Estamos inseridos num contexto de interação social neste mundo diferenciado do atual? - “leve vantagem você também!”
    Precisamos refletir se é realmente Cristo que vive em nós, e isto só é evidenciado nos frutos de nossos atos no mundo pela ação do Espírito, e não apenas pelas nossas "bondosas" atitudes no mundo ; pelos frutos do desejo de Deus em nós para o outro, e não pelos nossos desejos ou dons que alegamos ter recebidos de Deus, não o outro. Tudo é para a Sua glória, não para a nossa.
    Urge perceber o quanto estamos contaminados pelo desejo egóico, proveniente de um mundo maculado pela individualidade hedônica, cuja máxima é: “primeiro eu, segundo eu e, por fim, eu”, embora isto possa ocorrer, até mesmo, quando acreditamos estar obedecendo a vontade de Deus e, conseqüentemente, achando que estamos amando o outro.
    Por fim, se acreditamos ser “eleitos de Deus”, precisamos estar atentos se realmente fazemos a Sua vontade, ou apenas a nossa. Se em nós, revela-se a mente de Cristo, pelos frutos desse relacionamento, no amor incondicional pelo outro, ou se o que se evidencia em nossas vidas é a concupiscência da carne, velada pela religiosidade, no trato do amor do mundo em nós, com o outro e com Deus.
    O Senhor Jesus nos adverte:
“Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! Entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus, Muitos, naquele dia, hão de dizer-me: Senhor, Senhor! Porventura, não temos profetizado em teu nome, e em teu nome não expelimos demônios, e em teu nome não fizemos muitos milagres? Então, lhes direi explicitamente: nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, os que praticais a iniqüidade.” (Mt 7. 21-23)

Graça e Paz!



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