sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

RESGATANDO A “DIAKONÍA”

O Livro dos Atos dos Apóstolos mostra-nos, no dia de Pentecoste, o inicio do miraculoso crescimento do número de fiéis que, ao ouvirem as “Boas Novas” transmitidas pelos apóstolos, aderiam à fé em Jesus (Yeshua) como sendo o verdadeiro Messias prometido nas Sagradas Escrituras. Desta forma, assim como aconteceu com Moisés no deserto (Ex. 18.13-26), os Apóstolos depararam-se com a necessidade premente de delegar competência a outros membros da assembléia para auxiliá-los nas suas tarefas ministeriais diárias, devido à impossibilidade de continuarem administrando sozinhos um número tão grande de pessoas.
A partir do capítulo 6 podemos constatar que este problema teve início quando os discípulos conhecidos como helenistas - judeus que viveram por muito tempo fora da Palestina e por isso adotaram certos costumes da cultura grega - reclamavam constantemente contra os judeus autóctones conhecidos como hebreus, alegando que suas viúvas eram esquecidas na distribuição dos víveres que era realizada diariamente (At 6.1). Foi então decidida pelos apóstolos a convocação de uma assembléia geral para que os discípulos escolhessem entre si sete homens aptos para execução desta tarefa, que inicialmente era realizada pelos próprios apóstolos: “sete homens de boa reputação, repletos do Espírito e de sabedoria” (At 6.3). A partir daí podemos perceber o início da formação do que seria um protótipo da instituição oficialmente administrativa da Igreja Cristã, agora constituída pelos doze apóstolos e seus sete auxiliares.
Alguns teólogos acreditam que, assim como os doze apóstolos representavam o número de tribos de Israel – os hebreus -, os sete escolhidos dentre os helênicos representariam as nações pagãs que existiam em Canaã (At 7.19). Na realidade o que podemos perceber nos capítulos seguintes é que as funções dos setes se assemelhavam em muito às dos apóstolos, uma vez que estes também anunciavam a Palavra (At.8.6), operavam milagres (At 8.4) e batizavam (At 8,38).
É interessante notar que, apesar da função de “diakonía” que esses homens deveriam exercer, Lucas não dá a esses sete eleitos o nome de diáconos. É bom ressaltar que a palavra diakonía tanto pode designar serviço quanto ministério – “ministro de Cristo” (1Cl 1.7). Contudo, o que podemos de fato perceber é que, com o passar dos anos e com a criação e expansão das igrejas ditas gentílicas, o termo diakonos foi utilizado pelo apóstolo Paulo, não só como designação de um ministério (1Co 3.5; Rm 13.4; Cl 1.7; Cl 1.23-25), mas, principalmente, como um cargo na igreja (Fp 1.1; 1Tm 3.8; Rm 16.1; Tm 3,11), assim como Episkopos e Presbyteros que vieram a representar funções hierárquicas dentro do corpo eclesiástico.
Na verdade foi Inácio de Antióquia (século I d.C.) o primeiro autor cristão a classificar os Bispos, Presbíteros e Diáconos como três graus do ministério cristão. Esta hierarquia fixou-se na tradição da Igreja dentro de sua organização e prosseguiu através dos tempos.
Sabemos que no uso correto da palavra todos os membros efetivos da igreja são servos, “diakonos” de Deus. O próprio Jesus apresentou-se como “diakonos” (MT 20.27). É pela diakonía que Jesus se define: “O Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir” (Mc 10.45). Ele ensinou os seus discípulos a serem “diakonos” uns dos outros (Mt 20.26). Este é o modelo para a missão dos Seus discípulos e não deveria ser entendida como uma tarefa diferente da evangelização. Todavia, o sentido da essência espiritual dessa palavra foi sendo aos poucos alterado em função do seu emprego restrito e vinculado a tarefas – que também lhe são inerentes segundo as necessidades administrativas das igrejas –, mas que, com o passar dos anos, lhe deu uma conotação de um ofício meramente secular como o de segurança, porteiro, etc.
De sorte que o que pretendemos salientar nesta breve reflexão é a necessidade de se resgatar a essência espiritual da diakonía instituída por Deus através de uma aparente decisão circunstancial tomada pelos apóstolos há cerca de 2.000 anos atrás. Ao nos espelharmos em homens como Estevão e Filipe, podemos compreender mais claramente a importância deste ministério e perceber a necessidade de buscar incessantemente em Cristo a aptidão para o seu exercício, alicerçados no amor de Deus, cheios do Espírito Santo, sendo fieis à Palavra, glorificando, em tudo, o nome do Senhor, visando o estabelecimento do Seu Reino entre nós, e como adendo, sendo: “respeitáveis, de uma só palavra, não inclinados a muito vinho, não cobiçosos de sórdida ganância, conservando o mistério da fé com a consciência limpa. Também sejam estes primeiramente experimentados; e se mostrarem irrepreensíveis, exerçam o diaconato da mesma sorte, quanto à mulher, e necessário que sejam elas respeitáveis, não maldizentes, temperantes e fiéis em tudo. O diácono seja marido de uma só mulher e governe bem seus filhos e a própria casa. Pois os que desempenham bem o diaconato alcançam intrepidez na fé em Cristo Jesus” (1Tm 3.8-13).

Diácono: VALDEMILSON LIBERATO
Rio de Janeiro, 18 de agosto de 2009.

Um comentário:

  1. Professor, a restauração que almejamos segue a bom termo nesta reflexão. Aleluia !! Quão importante é para a Obra do Senhor um Corpo de Diaconato consciente no serviço a dispoção do Reino.

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