sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

A Magia do Natal

A magia do Natal
Valdemilson Liberato Pinto.
Nos últimos dias, com a aproximação das comemorações tradicionais de final de ano presente no nosso calendário cultural, podemos observar um crescente “burburinho” e divisão no meio da igreja sobre questões relacionadas à legitimidade comemorativa do Natal e a conseqüente participação dos cristãos nesta data festiva, um simulacro religioso que chamaremos de “a magia do Natal”. Isto que denominaremos de “magia” é uma espécie de “fenômeno do pensamento humano” capaz de dar investidura representativa de valor e poder a algo (o Natal) que, em si mesmo, não possui valor nem poder algum e nada representa. Assim falou o Senhor: “Estais enganados, desconhecendo as Escrituras e o poder de Deus” (Mt 22.29).
Desta forma, opiniões pessoais à parte, o que historicamente constatamos quando nos dividimos é a fragilidade do conhecimento doutrinário e, conseqüentemente, da fé que sustentam grande parte dos discípulos de Cristo.
O apóstolo Paulo, na sua primeira carta dirigida à Igreja em Corinto, alerta aos irmãos, que estavam divididos quanto à doutrina cristã no que versa sobre a ressurreição dos mortos, para se lembrarem do evangelho como lhes tinha ensinado, segundo as Escrituras.
Lembro-vos, irmãos, o evangelho que vos anunciei, que recebestes, no qual permaneceis firmes, pelo qual sois salvos, se o guardais como vo-lo anunciei; doutro modo, tereis acreditado em vão.
Transmiti-vos, em primeiro lugar, aquilo que eu mesmo recebi: Cristo morreu por nossos pecados, segundo as Escrituras. Foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras, (I Co 15. 1-4).
Ao pronunciar por duas vezes nesse texto a expressão “segundo as Escrituras”, Paulo, além de dar ênfase a uma questão fundamental na doutrina cristã, também retira por completo qualquer possibilidade de inserção de opinião pessoal sobre o ensino das Boas Novas, condição essencial, pelo Espírito, através da morte e ressurreição de Jesus Cristo, de acesso a Verdade, o qual deve ser patrimônio de todos aqueles que crêem e pelo qual foi concedida a Graça da salvação. Este é, sem dúvida, um princípio primordial da fé cristã, exemplo de justificada preocupação e necessária intervenção por parte dos “apóstolos de Cristo”, pois, como disse o próprio Paulo: “se Cristo não ressuscitou, ilusória é a nossa fé; ainda estais nos vossos pecados” (I Co 15.17).
Por outro lado, também podemos apreender que a maioria dos conflitos que dividem o “Corpo de Cristo” não compreende questões doutrinárias fundamentais, mas uma tendência histórica de, na ânsia humana de agradar ao Senhor, acrescentar um peso maior aos Seus ensinos, estatutos e mandamentos, e, com isto, pôr um jugo extra aos irmãos, embora muitas vezes, sem perceber, o que fazemos é apenas apascentar a nós mesmos. Lembremo-nos o que nos ensina o livro de Jó, quando numa pseudo propriedade de justos, Jó e seus amigos bramam pelo direito de baluartes da verdade, característica preponderante dos que estão longe do Espírito, mas cheios de si mesmos, e que julgam falar por Deus aquilo que, embora aparentemente correto aos nossos olhos, é exclusividade e autonomia do Espírito Santo.
Assim falou o Senhor:
Quem é esse que obscurece meus desígnios com palavras sem sentido? Cinge-te os rins como herói, interrogar-te-ei e tu me responderás. Onde estavas, quando lancei os fundamentos da terra? Dize-mo, se é que sabes tanto. (Jó 38.2-3).
De outra feita, Jesus nos ensina que, como discípulos seus, devemos ser “luz” e “sal” neste mundo, e, assim sendo, pelo Espírito, no processo de santificação, dar-nos-á Ele o poder de, como luz, sermos nas trevas um farol que sinaliza o caminho seguro, e, como sal, ter o sabor da plenitude de vida em Cristo, aguçando o apetite dos que padecem no des-sabor da ignorância da existência sem Deus. Entretanto, como dito acima, este é um processo sob o domínio exclusivo do Espírito Santo, que possui a justa medida para a intensidade do brilho e o tempero certo para o sabor que deve ser posto, pois, de outra forma, se quisermos sobrepor-nos às nossas limitações, dando uma “ajudinha pessoal” neste processo, certamente “cegaremos” e “salgaremos” a obra do Espírito.
Sendo assim, não é nossa proposta aqui falar sobre as origens e legitimidade comemorativa do Natal, pois esta tarefa já tem sido realizada com muita competência por outros homens de Deus. O que pretendemos é, à luz do Evangelho, não menosprezar o dever santo que nos cabe ao ensino da Palavra, mas ao contrário, levar os irmãos em Cristo a uma reflexão sobre os limites de nossa expressão relativa a tais questões doutrinárias, as quais, como sabemos, estão sob o controle transformador do Espírito, cabendo a nós o testemunho da Verdade e mitigar o excessivo valor atribuído pela religiosidade de alguns a uma data comemorativa que, embora saibamos de origem mundana, tem caráter meramente temporal. Com efeito, o que se verifica é que tal “excesso de zelo” apenas poderá converter este dia da condição alienante, pela ingenuidade e ignorância dos que participam dos seus costumes, ao jugo da opressão, da intolerância religiosa, do juízo pessoal e até da divisão familiar, entre os eleitos de Deus.
Entretanto, malgrado os esforços para evitar o mérito desta questão, já tão exaustivamente discutida e divulgada nos últimos dias, ou seja, sobre a implicação espiritual quanto ao fato do cristão participar ou não das comemorações natalinas, nos vemos impelidos a lançar, pelo menos de forma breve, um olhar para o que nos orienta o amor de Deus, revelado pela Graça do Evangelho de Cristo. Assim procedendo, em primeiro lugar descartemos todo e qualquer tipo de imposição pessoal, desprezo intelectual disfarçado de compaixão e intolerância religiosa, pois sabemos que estes nunca foram princípios do Evangelho do Amor.
O próprio Mestre ensina-nos:

Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e com ele cearei, e ele comigo (Ap. 3.20)
Em segundo lugar, sabemos que esta questão, por ser periférica (psíquica), é temporária e está em continuo processo de transformação pelo conhecimento da Palavra e crescimento espiritual em amor que se realiza individualmente pelo agir do Espírito, segundo a capacidade de cada um. Entretanto, que isto não seja motivo para nos eximir da responsabilidade de esclarecer aos néscios sobre a falácia religiosa deste dia “mágico”.
Por fim, segundo as Escrituras, todos nós precisaremos ser transformados de um corpo psíquico para um corpo espiritual, pois sabemos que, segundo as Escrituras: “a carne e o sangue não podem herdar o Reino de Deus, nem a corrupção herdar a incorruptibilidade” (ICo 15.50).
Sobre questões temporárias e o valor do conhecimento espiritual sem o amor, Paulo adverte aos coríntios:
No tocante às carnes sacrificadas aos ídolos, entende-se que “todos temos ciência”. Mas a ciência incha; é o amor que edifica. Se alguém julga saber alguma coisa, ainda não sabe como deveria saber. Mas se alguém ama a Deus, é conhecido por Deus.” (ICo 8. 1-3)
Paulo segue ainda instruindo-nos a respeito do ato de atribuir valor significativo ao “nada”:
(...) sabemos que o “ídolo nada é no mundo” e que não há outro Deus a não ser o Deus único. (ICo 8-4)

Por fim, amados, lembremo-nos do conselho de Paulo:
Deixemos, portanto, de nos julgar uns aos outros: cuidai antes de não colocar tropeço ou escândalo diante de vosso irmão. Eu sei e estou convencido no Senhor Jesus que nada é impuro em si. Alguma coisa só é impura para quem a considera impura. (Rm 14.13-14)
Graça e Paz. Rio, 01 de Dezembro, 2009

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