sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

A EXISTÊNCIA INAUTÊNTICA

Bulltmann e a experiência da existência inautêntica


     Rudolf Karl Bultmann, nasceu em 20 de agosto de 1884 na cidade de Oldenburg, Alemanha. Iniciou seus estudos teológicos em 1903 na Universidade de Tübingen, passando no ano seguinte para a Universidade de Berlim e dois anos depois para a de Marburg, onde manteve estreita relação com Martin Heidegger. Ele foi um dos expoentes da teologia do século XX, fortemente influenciado pelo pensamento de Heidegger, especialmente da obra Ser e tempo. Sua teologia representa o esforço para tornar a pessoa de Jesus relevante e contextualizada aos contemporâneos, chamados por ele de “homem moderno”.
    Bultmann encontra na ontologia de Heidegger consistente referencial teórico para o desenvolvimento de seu projeto teológico.
    Uma de suas obras mais significativas, “História da Tradição Sinótica”, foi publicada em 1921. Contudo foi só em 1941, ao publicar o “Novo Testamento e Mitologia” que ele obteve repercussão mundial através do que se chamou de programa de desmitologização do Novo Testamento.
    Acometido por várias doenças na sua velhice, após perder a visão, veio a falecer em 30 de julho de 1976.
    Bultmann, na sua obra “Novo Testamento e Mitologia” empenha-se em demonstrar as semelhanças entre existencialismo e cristianismo. Para ele, o existencialismo é a versão secularizada do Novo Testamento.
    Mondin (2003) relata que Bultmann acreditava que o existencialismo tornara-se um instrumento benéfico para a interpretação da Bíblia, alegando que:
 "O existencialismo presta-se admiravelmente à interpretação da Escritura, não só por sua pré-compreensão da existência humana em geral, mas também por sua concepção do homem em suas características específicas". (2003, p. 194)
 E conclui dizendo:
"partindo dessa concepção do homem, o kerygma cristão é plenamente inteligível. Numa palavra, o esquema do kerygma enquadra-se perfeitamente com o esquema do existencialismo. Também fala de homem velho e de homem novo, de queda e redenção, de possibilidades e decisões. Por essa razão, deve-se considerar o existencialismo a filosofia “justa”, que “oferece as representações apropriadas para a interpretação da Bíblia”. (Id., p.194-195)
    Assim sendo, na sua interpretação, o conceito neo-testamentário que melhor descreve a existência humana é “soma”, a qual não deve ser entendida como substância, mas como forma de habitar o mundo. Assim, o ser humano pode ser chamado soma quando, tendo uma relação consigo mesmo, está apto para distinguir-se de si mesmo.
    Ele se apropria do conceito heideggeriano de existência inautêntica, reinterpreta este conceito e o caracteriza como não abertura ao futuro. Ou seja, o estado em que o ser humano se afasta da possibilidade determinada por Deus, como se fosse apenas atualidade. Em poucas palavras, é o ser humano sem fé.
    Bultmann, ao definir o conceito de angústia e existência inautêntica, afirma que, inautêntica é a existência em pecado que leva o ser a morte. Enquanto que a angústia tem o papel de revelar ao dasein que ele além de não estar em casa, não é senhor de sua existência. Assim sendo a existência inautêntica consiste em o ser humano procurar se encontrar no mundo e não em Deus. Com isso, a experiência da existência inautêntica não é algo sobre o qual se possa falar, mas vivê-la. Ao se ver como parte do mundo o dasein perde sua vida. Com isso, a existência inautêntica, então, passa a ser a existência que não leva em consideração o Criador, voltando-se para a criatura, para o mundo.
    Enquanto o conceito de cura em Heidegger marca a estrutura do dasein, para Bultmann o conceito de pecado não consiste apenas em atos isolados, em um tipo de suplemento ao ser humano, mas é o seu caráter essencial
GRAÇA E PAZ
Valdemilson Liberato.